Na história de Patos de Minas, os nomes de Farnese Dias Maciel e sua esposa, Adelaide Caixeta de Melo Maciel, serão sempre lembrados com respeito e admiração. O ilustre casal teve doze descendentes, e um deles, que recebeu o nome de Risoleta Maciel, nasceu na casa mandada construir por seu pai há 102 anos na Rua Olegário Maciel, e até hoje de pé, orgulhosa e altaneira, como marco simbólico de uma cidade que se tornou grande por causa da grandeza moral de seus habitantes¹.
Os dias de infância de D.ª Risoleta foram vividos em Patos e na Fazenda Gameleira, pertencente ao Coronel Farnese, distante da cidade cerca de 17 léguas e meia² que eram cobertas em três dias de viagem à cavalo. Na época, cada filho ganhava seu cavalinho e os camaradas da fazenda eram os acompanhantes dos meninos nas longas viagens.
“A montaria de minha mãe era de silhão. A mulata Maria Polista, vinda de Cana Brava, foi quem me ajudou a dar os primeiros passos. Meu pai buscou em Paracatu uma professora para a fazenda”.
D.ª Risoleta foi aluna do Grupo Escolar Marcolino de Barros, no início, como ouvinte, e depois já matriculada, terminando o curso primário com grau sete. O diretor era o professor Modesto de Melo Ribeiro e uma das mestras sua prima Dalca Magalhães. Entre os muitos colegas encontravam-se Alino Duarte Campos, Deiró Eunápio Borges Junior e Celcídia Tibúrcio. Mais adiante, em 1924, estudou no Colégio Sion, na cidade de São Paulo, transferindo-se depois para Belo Horizonte, onde matriculou-se no Colégio Sagrado Coração de Jesus, dirigido por freiras alemãs.
Na Rua Olegário Maciel, que é considerada por D.ª Risoleta como a mais bonita da cidade, a então menina viveu dias extremamente felizes, brincando com as bonecas feitas por sua mãe. “Era o fino da picada… Nas festas de igreja a gente vestia de anjo e as mocinhas de branco. No final, nos presenteavam com cartuchos de amêndoas. A cidade não tinha cercas. Os cachorros e os cavalos eram soltos na rua. As boiadas passavam na sua porta e, um dia, uma vaca entrou lá em casa. A rua ficava tampada de chifres. A primeira rua asfaltada foi a Tenente Bino. Lá ficava o Palácio Episcopal, residência do bispo. Os pais eram severos e vigiavam muito as suas filhas, acompanhando-as nas festas nas casas de amigos e conhecidos. Os carnavais eram animados e a fantasia preferida a de pierrô. Também o lança-perfume era muito usado”.
D.ª Risoleta conheceu o médico Dr. Paulo Brandão, e com ele casou-se em 31 de dezembro de 1933. A festa de casamento foi muito bonita, apesar da família estar enlutada pelas mortes do Dr. Olegário Dias Maciel, presidente de Minas Gerais, e de D.ª Inhá, esposa do Major Jerônimo Dias Maciel.
Seu vestido de noiva veio do Rio de Janeiro, e o casal foi morar no bangalô construído especialmente para eles, próximo ao Hospital Regional Antônio Dias, onde o Dr. Paulo, com apenas 24 anos, era diretor. Durante 14 anos eles permaneceram em Patos. Não tiveram filhos. Até que em 1947, por contingência do trabalho de seu marido como médico no exercício da função de chefe de departamento, transferiram-se para Belo Horizonte.
D.ª Risoleta foi incentivada por seu marido a fazer cursos de literatura. Eram cursos populares, realizados duas vezes por ano, e foi a partir desta convivência que os contos começaram a ser redigidos e publicados em jornais. “Muito devo ao meu marido”.
Da sua produção literária ela destaca os artigos Rio da Prata (sobre o Monsenhor Fleury), Antônio Dias Maciel (seu avô) e Vapor de Meu Pai (uma lembrança de seus oito anos). Dos contos, Bereré (o automóvel de seu pai), que foi premiado em Portugal, no Rio de Janeiro e em Juiz de Fora. Recentemente ela escreveu Curral Del Rei (Belo Horizonte dos velhos tempos).
Membro da Academia Municipalista de Letras, da Academia Mineira de Letras, da Associação dos Apóstolos da Oração, da Academia de Filosofia, Ciências e Letras de Anápolis, da Academia Paulista de História, foi agora convidada para participar do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.
Sua avó era casada com um membro da família Caixeta e por isso D.ª Risoleta afirma que “Meus avós pertencem à história desta terra e me orgulha a grandeza de ter nascido desta honrosa família”.
Do livro “Famílias Tradicionais – Borges e Maciel”, consta o seguinte trecho: “Coronel Antônio Dias Maciel, filho de Bom Despacho, veio para Patos nos fins de 1957. Siô moço, dono de luzida tropa, acampou de barraca fincada ao pé da frondosa casuarina, adorno do Largo da matriz (Praça Dom Eduardo, esquina com Rua Tenente Bino). Uma semana, quando muito, foi-lhe suficiente para comprovar a riqueza do solo, gema pura, pelos arredores da belíssima lagoa dos Patos. Assuntou daqui o esplendor das florestas virgens, as pastagens de capim meloso na extensa chapada, a vegetação rasteira e ainda as aguadas límpidas e fartas…”.
“Meu avô trouxe a sua família para esta terra encantada e aqui terminou seus dias. Meus antepassados nasceram longe, mas viraram patenses de coração. Nesta cidade o verde é diferente, e quando a chuva vem o capim cresce, fica maior que a gente. No inverno é duro, dá vontade de ficar na beira do fogo, mas cá no recanto de minha alma agradeço a Deus por ter tido o privilégio de morar nesta terra abençoada”.
NOTA: Risoleta Maciel Brandão faleceu em 21 de dezembro de 2009.
* Fonte e foto: Texto de Marialda Coury publicado na edição n.º 22 de 15 de março de 1997 do jornal O Tablóide, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann.
* 1: Construída em 1895 na Rua Olegário Maciel, a casa de Farnese Dias Maciel se manteve de pé, orgulhosa e altaneira até o ano de 2005, quando foi demolida. Ficava entre a Rua Major Gote e a Avenida Getúlio Vargas, mais ou menos no meio do quarteirão do lado direito sentido avenida.
*2: Légua era a denominação de várias unidades de medidas de itinerários (de comprimentos longos) utilizadas em Portugal, Brasil e em outros países até à introdução do Sistema Métrico. As várias unidades com esta denominação tinham valores que variavam entre os atuais 2 a 7 quilômetros.