O que a Escola de Música tem oferecido ao povo de Patos de Minas?
Acredito eu, que tem oferecido um grande conhecimento cultural de música. Inclusive, além da parte técnica, já introduzimos neste ano, a História da Música que é uma parte de conhecimento geral de como surgiu a música desde a antiguidade e da época medieval e no próximo ano, esse estudo será bastante intensificado.
Qual é a atual estrutura da Escola? O aluno que se transferir daqui para outra cidade, estará em condições de prosseguir seus estudos de música?
Estamos seguindo mais à risca a escola estadual que se divide em dois ciclos: o 1.º ciclo vai do 1.º ao 8.º ano e o 2.º ciclo, do 1.º ao 4.º ano (antigamente era do 1.º ao 3.º). Funciona atualmente, em nossa escola, apenas o 1.º ciclo, por uma série de dificuldades, principalmente por falta de professores, o que ainda está difícil e também, por causa da quantidade de matérias. No 2.º ciclo, são ministradas de 12 a 13 matérias e seria impossível, para mim e as colegas que estão me ajudando, ministrá-lo agora. Minha meta é abrir também o 2.º ciclo para formar o conservatório. Seguimos à risca o programa de conservatório, o que varia um pouco de cidade para cidade. Nosso programa é idêntico ao do Conservatório de Uberlândia; agora para o Conservatório Federal de Belo Horizonte, há uma diferença que consiste no seguinte: o aluno que entra para o 1.º ano daquele Conservatório, já deverá ter estudado pelo menos uns cinco anos, com professor particular e lá ele faz menos anos, pois no Federal não existe a divisão de 1.º e 2.º ciclos, mas afinal, é tudo a mesma coisa, o ensino é o mesmo. Portanto o aluno que sair da nossa escola estará habilitado para continuar seus estudos em qualquer conservatório. Agora, o aluno que passa de uma escola para outra, seja qual for, tem que se submeter a um teste, para se certificar qual o ano ele deverá pegar. Acho isto estranho, mas funciona assim.
Seus alunos mais adiantados estão cursando qual ano?
O sétimo.
E a senhora vê possibilidade de que esses alunos possam cursar o 2.º grau aqui?
De imediato não. Tenho algumas alunas que estão fazendo curso de férias fora, em Brasília, por exemplo e estão dispostas a continuar aqui e que terão depois condições de lecionar para o 2.º grau. Agora, um grande problema que vejo é que quando o aluno chega ao 2.º grau, ele já está em idade de ir para outra cidade para cursar a faculdade e isso faz com que o número de alunos seja pequeno para seu abrir aquele curso.
Dentro de quanto tempo a senhora acredita poder contar com os elementos necessários, para lecionar o 2.º grau?
É difícil de se prever. A Blanche, por exemplo, acredito que vai ficar trabalhando conosco. Ela é uma das que tem feito cursos fora e que já disse pretender continuar aqui, para lecionar música. Há outros elementos que pensam da mesma maneira, que querem ficar aqui se realizarem na música. Tenho incentivado muito a esses alunos, para que façam o 2.º grau em Uberlândia, por exemplo, indo lá uma vez por semana, pois sei que com eles eu poderia contar, futuramente.
Na parte de instrumento apenas, ou seja no caso de piano, a senhora tem condições de continuar ministrando os estudos correspondentes ao 2.º ciclo?
Isto não tem problema; o difícil é que eu sozinha lecione a parte de instrumento e a outra parte que como eu já disse, abrange cerca de treze matérias.
O que é que o aluno estuda no curso de música?
No 1.º grau: Musicalização, Admissão, Teoria I, II e III. No ano que vem vamos colocar História da Música, que é uma matéria do 2.º grau. Agora no 2.º grau, seria História da Música, Música de Câmara (inclusive essa matéria já colocamos, no último recital), Dicção, Técnica Vocal, Morfologia, Harmonia, Canto Coral e Acompanhamento.
Qual é a sua habilitação como professora?
Estudei mais em Belo Horizonte e conclui o Curso Técnico em Uberlândia. Pretendo concluir outros cursos em Belo Horizonte, onde inclusive estarei no próximo mês. Tenho a carteira do MEC, que me habilita a lecionar para o 1.º e 2.º graus, em qualquer conservatório do Brasil.
Quais são os cursos ministrados pela Escola “Carlos Gomes”, no momento.
O curso Instrumental, que abrange piano, violão (solo e acompanhamento) e flauta doce. A parte técnica é composta e três partes: Musicalização, que é dividida em 1.º e 2.º ano, respectivamente para crianças de 6 a 8 anos e de 8 a 10 anos; Admissão, que é uma pré-teoria, para alunos de 12 anos acima e que é feita em 3 anos, dividindo-se em Teoria em si, Solfejo Ritmico e Melódico e Ditado Ritmico e Melódico. Logicamente, essas idades dependem em muito, da capacidade do aluno.
Quais são as professoras atuais?
Na parte de piano Blanche Thais Porto de Matos, Betânia Tharley Porto de Matos, Isa Augusta Moura de Mendonça e eu. Na parte de violão Anisio Dias Gonçalves para solo e Vânia Maria Amâncio para acompanhamento. Na parte de flauta, musicalização e admissão, Márcia Regina Gomes. A Blanche leciona parte de piano e de teoria. Todos eles estão terminando o 1.º grau, ou seja, entrando no 8.º ano, em relação ao piano. O Anisio por exemplo, não fez um curso de conservatório, mas ele tem muita vivência fora inclusive, já deu muitos recitais em Brasília e é muito elogiado. Além disso ele tem uma dedicação enorme à música e tem muitos conhecimentos. A Vânia está fazendo 2.º grau em Uberlândia.
Compensa financeiramente manter a escola a escola ou é apenas um ideal?
Atualmente compensa, apesar de muitas dificuldades. A princípio tive muitos problemas e amolações: pensavam que eu estava “ganhando milhões” mas durante dois anos, trabalhei para os outros, porque posso dizer que comecei a escola de uma maneira errada, trazendo professores de fora, no que não me arrependo de jeito nenhum, porque eles me ajudaram muito e me deram muito apoio, mas tive uma série de problemas financeiros. Eu pagava passagens de ônibus e hotel que somados aos seus salários, representava muita coisa. Naquela época, consegui da Prefeitura, uma subvenção, que enfim não resolvia muito. Tinha também o problema de alguns professores que faltavam muito o que me trazia uma série de problemas. Estive a ponto de desistir de tudo, porque o negócio não tinha saído como eu pensava e naquela época me faltou também muito apoio e incentivo; alguns pelo contrário, faziam questão de me martirizar, esperando que a escola fosse por “água a baixo” e aquilo serviu para que eu me desdobrasse em trabalho, para superar as dificuldades. Foi então, que resolvi seguir o conselho de D. Cora do Conservatório de Uberlândia, e coloquei os alunos mais adiantados, para dar aulas para os principiantes e dai em diante, passei a achar que compensava manter a escola, não só financeiramente, mas emocional e psicologicamente, principalmente. Podem escrevei aí: sofri muito, sofri demais, no princípio.
Comecei a lecionar aqui em Patos logo que me casei, em 1972 ou 73. Comecei com duas alunas, que eram filhas do Dr. José Mendonça, que aliás me deu muito apoio, no princípio. O número de alunas foi crescendo até que cheguei à conclusão de que não poderia continuar sozinha em 1975, resolvi fundar a escola, com a presença de D. Cora Caparelli, Diretora do Conservatório de Uberlândia onde eu estudava na época, que me incentivou muito, quando lhe expus minhas idéias. Temos hoje, o germen de um conservatório, o qual se Deus quiser, um dia será realidade.
Quantos alunos tem a escola?
O número varia sempre, em virtude de desistências e novos ingressos. No curso de piano temos de 50 a 60 alunos e no de violão de 20 a 30. Ao todo temos de 80 a 90 alunos.
A escola recebe atualmente, alguma subvenção?
Não. Eu mesma desisti, pois achei que não compensava, porque para recebê-la e escola tem que ser registrada e pagar um contador e isto estava pesando muito. Além disso, resolvi arcar sozinha com a responsabilidade, para evitar certos comentários. Devo deixar claro que a subvenção era relativamente boa e trouxe outra grande vantagem que foi o reconhecimento da escola, como de Utilidade Pública, na área municipal.
Existem queixas por parte dos pais de alunos, em relação aos preços das mensalidades?
Alguns se queixam realmente, mas infelizmente, não é possível baixá-las, pois todos sabem que principalmente na parte de instrumento, o professor tem que lecionar para cada aluno separadamente. Se eu pudesse por exemplo, colocar 20 alunos de piano em uma sala e lecionar para todos em conjunto, é lógico que o preço poderia ser bem inferior, mas isso não é possível.
Existe pelo menos uma idéia de para quando poderá a escola ter uma sede própria?
Temos uma idéia que está começando agora, em virtude da grande necessidade de um local para a escola, apesar de todo apoio que tenho tido do CET, que tem me cedido as dependências do “Teatro Telhado” sem qualquer ônus. Da mesma forma, a Simone precisa de um local apropriado para o ballet e o próprio CET, necessita de outra sala maior para suas atividades. Então, estamos pensando em nos unir, já que cada ramo desses depende do outro, para que possamos trabalhar juntos e ver se conseguimos recursos para a aquisição de um terreno próprio e construção das dependências. Dessa integração, queremos que surja uma fundação, que seria a base mesmo do conservatório, pois nele devem existir a parte de música, a parte de ballet e a parte de teatro e isso daria mais força. Estamos muito dispostos para este trabalho, e existe grande possibilidade de pelo menos iniciarmos a construção no próximo ano. Em virtude disto, já irei incluir na escola no próximo ano, a parte de Arte Dramática e Expressão Corporal e a Simone irá acrescentar ao ballet, a parte de Arte Dramática e Iniciação Musical e o teatro, da mesma forma irá se utilizar da Expressão Corporal e da Iniciação Musical.
Depois do 2.º grau, qual o caminho que deve seguir o aluno que pretende continuar seus estudos de música?
Ele deverá ingressar na Faculdade e aí o curso pode durar de 3 a 5 anos, dependendo da faculdade.
Existe possibilidade de um aluno residente em Patos, fazer o curso superior da mesma forma que se pode fazer o 2.º grau, isto é, indo uma vez por semana?
Em Belo Horizonte, na FUMA (Fundação Mineira de Artes) por exemplo, existe essa possibilidade de o aluno ir e em um dia assistir aula de todas as matérias, já que são cinco ou seis matérias por ano.
Que mensagem a senhora deixaria para seus alunos e para o povo de Patos?
Que todos tenham confiança e que esperem, que iremos atingir nosso objetivo, que é o conservatório¹.
* 1: Leia “Conservatório Municipal Galdina Corrêa da Costa Rodrigues”.
* Fonte: Entrevista publicada na edição n.º 38 da revista A Debulha de 15 de dezembro de 1981, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Fotos: Em 26/03/2013, o portal www.tvlux.com.br (página www.tvlux.com.br/noticia_detalhada.php?id=794) publicou uma pequena entrevista com o título “Professora do Conservatório municipal se aposenta” a respeito da Professora. As duas fotos estão presentes neste texto.