Todas as espécies de morcego desempenham um importante papel no ecossistema, como os insetívoros, que são importantes controladores de insetos, uma vez que estes insetos podem ser pragas agrícolas ou transmissores de doenças. Os frutívoros são indispensáveis na dispersão de sementes e na polinização de algumas plantas. De acordo com alguns botânicos os morcegos são os dispersores mais importantes entre os mamíferos: 25% das espécies de árvores das florestas de algumas regiões são dispersas por eles. Ademais, este grupo é um indicador de níveis de alteração no ambiente e bom material de estudo sobre diversidade.
O estudo aqui apresentado considerou a efetiva necessidade da obtenção de informações sobre a diversidade de morcegos no Parque Municipal do Mocambo, onde não há nenhum registro de estudo sobre a Chiropterofauna (presença de quirópteros, os morcegos). Essas informações poderão servir como subsídios para o estabelecimento de parâmetros para futuras estratégias de conservação ou recuperação da mata do Parque.
O trabalho foi feito em parceria com o Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura Municipal de Patos de Minas, que forneceu materiais para coleta e identificação dos morcegos. Os pesquisadores envolvidos no trabalho receberam a vacina antirrábica antes da realização da pesquisa de acordo com as normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O estudo foi conduzido com periodicidade mensal entre agosto a outubro de 2007. As coletas foram feitas quatro vezes por mês, (sendo uma coleta a cada semana feita sempre de 17:30 às 22:30). Dentro do Parque foi utilizada uma rede de neblina (8 x 2,5), que foi instalada em pontos de maior acessibilidade ao voo dos animais, como trilhas e saídas de trilhas, aproximadamente a 1 m do solo, podendo chegar a 1,5 m variando de acordo com o terreno. Estes pontos foram: borda inferior da mata, borda superior da mata e dentro da mata, fazendo um rodízio de locais a cada semana de modo que na ultima semana do estudo, o primeiro ponto foi reavaliado. A rede de neblina era aberta às 17:30 e revisada periodicamente de 20 em 20 minutos, sendo que após 5 horas de exposição a rede era fechada. O horário de captura foi considerado independente do horário de verão adotado. Com o auxílio de pulsar e lanterna, as espécies capturadas foram colocadas individualmente dentro de sacos de panos numerados, para contenção dos animais, e uma vez identificados foram marcados com tatuagem no dactilopatágio (usando tinta para modelismo não tóxica), para que fossem descartados nas próximas capturas. A identificação dos exemplares capturados foi feita através de uma Chave Artificial Para Identificação de Molossídeos Brasileiros (Mammalia, Chiroptera).
Como resultado, houve um número maior de espécies capturadas na borda inferior da mata, sendo a maioria frutívoras, pertencentes a família Phyllostomidae; o que provavelmente deve-se ao fato da mata apresentar trilhas livres e curso d’água juntamente com árvores frutíferas neste local, pois locais úmidos tendem a apresentar alta riqueza de espécies para a Família Phyllostomidae.
Após um esforço amostral de 60 horas/rede em 3 meses de coletas, 32 indivíduos de quatro espécies de 2 famílias foram capturados: Carollia perspicillata (14 indivíduos), Artibeus sp (8 indivíduos), Epitesicus Brasiliensis e Platyrrhinus lincatus (5 indivíduos); também foram recapturados 5 indivíduos da espécie Carollia perspicillata, 2 da espécie Artibeus sp e um Platyrrhinus lincatus que não fizeram parte da somatória.
A guilda de frutívoros apresentou três espécies com uma espécie de maior representatividade em abundância (44%). A guilda de insetívoros apresentou uma espécie que correspondeu a 25% dos animais capturados, contudo a guilda de frutívoros representou maior riqueza (três espécies) que corresponde a 75% dos animais capturados. A abundância de frutívoros pode refletir também a seletividade do método de coleta por rede de neblina, uma vez que espécies insetívoras como os exemplares das famílias Vespertilionidae e Molossidae podem evitar essas redes.
A espécie Epitesicus Brasiliensis pertence á família Vespertilionidae, foi capturada nas bordas inferior e superior da mata. Estas capturas foram marcadas devido estes locais apresentarem iluminação noturna das vias públicas e das residências nas proximidades das duas bordas da mata. Ambientes com iluminação é um atrativo para os insetos o que atrai também os morcegos insetívoros.
Para Bredt (1996), a espécie Platyrrhinus lineatus pode ser observada em pequenos bandos ou em grupos mistos ou com uma das duas espécies de Artibeus sp, o que não foi identificado no trabalho, ou seja, as duas espécies apresentaram horários diferentes de captura, possivelmente estas espécies estão evitando uma competição. A espécie Carollia perspicillata mostrou preferência por áreas abertas, pois apresentou maior número amostral de indivíduos capturados nos diferentes locais: borda inferior da mata (7 indivíduos), borda superior da mata (4 indivíduos) e interior da mata (3 indivíduos).
Concluindo, a riqueza em espécies, notadamente de espécies frutívoras, caracteriza o Parque como um ambiente favorável à sobre vivência dos morcegos, estimulando medidas de preservação nessa área. E de grande relevância que este estudo venha aumentar o conhecimento da fauna de morcegos do Parque, portanto outros estudos e projetos de educação ambiental devem ser realizados, pois as pessoas possuem ideias erronias sobre os morcegos, sendo que estes realizam importantes processos ecológicos, como dispersão de sementes e polinização.
* Fonte: “Levantamento da Chiropterofauna (Mammalia – Chiroptera) do Parque Municipal do Mocambo de Patos de Minas – MG”, de Iara Cristina Teles, Morgana Maria Fonseca Porto, Sandro Gonçalves Moreira e Tarcísio Henrique Nogueira do Amaral, do Centro Universitário de Patos de Minas, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Publicado em Anais do IX Congresso de Ecologia do Brasil, 13 a 17 de Setembro de 2009, São Lourenço – MG.
* Foto 1: Espécie Carollia perspicillata (Fsd2010.org).
* Foto 2: Espécie Platyrrhinus lineatus (Christiancamargo.com).