IGREJA DOS CAPUCHINHOS: NOS TEMPOS DA CONSTRUÇÃO – 1

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Depoimentos de moradores do bairro ou da região que envolve hoje a Matriz Santa Terezinha e suas comunidades, ou seja, a Paróquia, dão conta da importância desse momento para a vida do povo de Patos de Minas. O envolvimento de todos foi intenso. Sr. Adão Borges Caixeta, na época da construção, residia na comunidade rural conhecida como Baixadinha dos Gonçalves. Disse em depoimento:

“Me recordo de vir à missa na igrejinha velha. Achava que os frades daquele tempo eram mãos próximos do povo, o que serviu para tirar um pouco do medo que o povo tinha de padres, acostumado com a seriedade do Monsenhor Fleury”.

Entre os depoimentos, alguns são bem pitorescos e chamam a atenção para a simplicidade do cotidiano dos frades e da população. Veja o que disse Sr. Erasmo Tolentino Gonçalves, digno morador do bairro, hoje com noventa anos, esbanjando energia, alegria e saúde:

“Quando estava sendo projetada a Igreja de Santa Terezinha, no afã de dar sua ajuda, apareceu um dia na pequena igreja um ser com uma garrafa dizendo que era ouro em pó. Frei Antônio interessou-se pela oferta dizendo que comprava. Fez a compra, disse ao vendedor que se interessava a comprar mais, marcou então a data, mas antes levou o ouro para exame, era limalha de metal amarelo. Na data marcada, aparece o vendedor, conversa vai, conversa vem, o Frei levou o vendedor mais para o interior do convento, deu-lhe uma surra daquelas e prometeu que se não devolvesse o dinheiro daria parte à polícia, o caso foi resolvido a contento.

Uma grande horta foi feita nos fundos do convento. Ajudei na medida do possível. Os pardais entraram em ação. O frei armou vários alçapões, prendeu tantos pardais que me pediu ajuda. Pardais morreram aos montões. Depenados, limpos, aferventados, levou cada um bom pedaço de queijo, depois de fritos, bem fritos, acompanhado de vinho, todos desapareceram.

Capelão da Capela do Hospital Regional, toda manhã, lá estava nosso querido Frei Antônio de Gangi para celebrar, quando conseguia carona sempre se alegrava. Na volta, era jocoso ver Frei Antônio nas esquinas como se fosse um mero fiscal de trânsito acenando para conseguir uma carona, como tinha sorte!

Frei João era caminhoneiro do convento. Quantas viagens ao Posto Água Limpa, próximo ao Mamoré. Não se descansava, nunca faltou água na construção, era um baluarte. O Jiló, seu grande amigo e companheiro, não o deixava na soneca da tarde, lá estava o amigo cachorro a dormir. Sabe, ele acostumou a gostar de bala; quando alguém visitava o convento, o cachorro amigo se atrevia a tocar o focinho no bolso do visitante”.

A escritora Josina Nunes Drumond (Jô Drumond), em seu livro Memória Peregrina: contos e crônicas (2007, p. 73-75), relata o episódio ocorrido entre um frade, cujo nome não é citado no livro, e ela. Segundo a escritora, quando tinha entre 5 e 6 anos de idade, havia ganhado de sua madrinha uma “jardineira” vermelha. Vestiu a roupa e se dirigiu à igreja, pois morava ali pertinho. Estava na hora do ângelus. De repente um frade de barbas grandes chegou até ela dizendo: “Onde já se viu tamanha descompostura! Mulher de calças compridas na casa de Deus!”. Ela, sem entender nada, foi posta porta afora sob olhar dos curiosos. A autora termina o relato dizendo: “Devo ter cometido um pecado muito grande, mas juro que foi sem querer […]. Assumi meu pecado e confinei-o no porão do esquecimento durante várias décadas. Hoje posso regatá-lo sem risco de expiação e com forte dose de indignação”.

Para muitos moradores, as lembranças são de fatos representativos dos esforços dos freis que aqui residiram:

Na construção da Igreja de Santa Terezinha, o Frei Davi saía nas fazendas pedindo auxílio para a construção. Naquela época, meu pai Antônio David era responsável na Capela do Aragão, então eu era jovem e nós dois saíamos nas fazendas pedindo para o término da construção. Era um jipe candango. Nós ganhávamos tanto que ajuntávamos na casa do meu pai Antônio David: feijão, milho, arroz, leitões, bolas de sabão caseiro. Pois então, isso tudo eram os donativos da época. São coisas históricas do Aragão. (Sebastião David de Magalhães)

Naquela época, eu tinha 12 anos de idade e vinha com Sr. Jovino no carro de boi cheio de areia vermelha que era usada no reboco da Igreja. (Jair Xavier de Sousa)

Participei bastante. Me recordo do esforço de Frei João, que percorria a região buscando madeiras, tijolos, bambus e outros materiais para a construção. (Hélio Fernandes Canedo)

Frei Antônio de Gangi era o mestre de obras e não se hesitava em subir nos andaimes para vistoriar. Me recordo da bela voz do Frei Davi, dos casamentos celebrados na roça com viagens muitas vezes feita a cavalo. (Iracy Alves da Rocha)

Tristeza foi a morte de pedreiro que caiu da torre em construção. Recordo-me também que o casal João Gonçalves e Dona Rita doaram um terreno para os frades na beira do rio Paranaíba. (Antenor Vitalino)

* Fonte: Livro “Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus: uma história de amor franciscano em terras de Patos de Minas”, de Marques Selma Helena.

* Foto: Do livro “Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus: uma história de amor franciscano em terras de Patos de Minas”, de Marques Selma Helena, publicada em 30/10/2024 com o título “Convento e Igreja dos Capuchinhos no Início da Década de 1960”.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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