SOLICITUDE INDEVIDA

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Ao lado do Posto Mineirão, na esquina da Avenida Getúlio Vargas com sua colega Paranaíba, tem um ponto de ônibus coletivo. Quando um deles lá parou, estava presente a manceba Ana Carolina, vinda do Bairro Ipanema. Quatro passageiros entraram, entre eles um anão, que, de tão baixinho, costumamos dizer anãozinho, o que é pura impropriedade, pois anãozinho é anão ainda criança, e o que adentrou ao ônibus já era adulto. Pois bem, continuemos. Então, o anão estava tendo uma dificuldade enorme para conseguir sentar no banco ao lado da Ana Carolina. Esta, muito da solícita, ajudou o anão a se ajeitar no banco, que fez questão de agradecer com aquele famoso gesto de mão com os dedos dobrados e o polegar ereto, significando legal, muito obrigado.

No seu roteiro, o ônibus seguiu pela Avenida Getúlio Vargas, entrou à direita na Rua General Osório, cruzou a Rua Major Gote e parou no ponto da Praça Desembargador Frederico. Continuando, seguiu pela Rua Padre Caldeira e parou no ponto do Mercado Municipal. Seguindo, entrou à esquerda na Rua Major Jerônimo e parou no ponto próximo à Praça Champagnat. Foi quando o anão escorregou do banco, na mente da Ana Carolina. Ela, solícita como sempre, com o ônibus já em movimento, fez um esforço danado para ajeitar o pequenino no banco. Estranhamente, dessa vez ele não agradeceu e ficou amuado.

Lá foi o ônibus, contornando a Praça Champagnat e entrando na Rua Ataualpa Dias Maciel. Próximo à Praça Nossa Senhora de Fátima, mais conhecida como Praça do Rosário, o ônibus parou no ponto. Eis que o anão, na mente da Ana Carolina, escorrega novamente do banco. Eis que a Ana Carolina, solícita ao extremo, ao tentar ajeitá-lo de novo no banco é surpreendida pela ação truculenta do anão tentando de todas as formas se livrar das mãos da moça e, grunhindo, despertou a atenção dos passageiros e até do motorista, que resolveu saber o que estava acontecendo. Enquanto a Ana Carolina explicava que estava apenas ajudando, o anão, nervosamente grunhindo, manifestava sua insatisfação. Graças, as coisas se ajeitaram, o anão desembarcou fulo da vida e o ônibus continuou com a Ana Carolina com a consciência… sei lá!

O que, não entendeu? Ah, o negócio é que o anão ia descer no ponto antes da Praça Champagnat e a Ana Carolina pensou que ele havia escorregado do banco. Depois, antes da Praça do Rosário, ele ia descer, mas a Ana Carolina pensou novamente que ele havia escorregado. Só que o anão queria descer lá no ponto próximo à Praça Champagnat. A solícita ação da Ana Carolina o impediu. Já irritado, o anão quis descer no próximo ponto e deu-se a confusão. Mudo de nascença, o anão, grunhindo de raiva, desceu do ônibus. Moral da história: Nem toda solicitude é bem-vinda!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.

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