ESPANCAMENTO DO PADRE ALAOR, O

Postado por e arquivado em HISTÓRIA.

Alaor Porfírio de Azevedo nasceu em Araxá no dia 13 de agosto de 1902, filho de Elias Porfírio de Azevedo e Maria Dolores de Azevedo. Estudou no Grupo Escolar Delfim Moreira, de Araxá, e depois em Itu-SP, Colégio Anchieta de Nova Friburgo-RJ e terminou os estudos em Mariana-MG. Foi ordenado sacerdote por Dom Antônio Almeida Lustosa em dezembro de 1927. Em 1929 assumiu a Catedral de Uberaba, permanecendo até 1934, seguindo então para Uberlândia no ano seguinte, onde, por conta de seu envolvimento político, certa noite os comunistas prenderam-no, espancaram-no, despindo-o completamente e pichando-lhe o corpo, o amarraram em praça pública, para escárnio e desprestígio da Igreja Católica, demonstrando assim o clima de tensão política que se vivia na época entre forças políticas antagônicas e o inevitável envolvimento da Igreja em ambos os lados desse enfrentamento. Por causa desse imbróglio, em 1936 foi para Araxá. E em 11 de fevereiro de 1948, tomou posse como pároco em Patos de Minas¹. Em 1.º de março de 1952, Padre Alaor faleceu vitimado por uma crise de angina pectoris² e foi sepultado em Araxá.

Sobre o espancamento, Deiró Eunápio Borges lhe enviou a seguinte carta:

Patos, 27 de agosto de 1935
Prezado amigo Padre Alaor
Araguary
Laudetur Jesus Christus
O meu afetuoso abraço

Debaixo da mais profunda revolta de espírito acabo de ler a noticia do innominavel attentado selvagico de que foi victima V. Revdma. e, com a alma voltada para Deus, numa supplica para que se transformem para a victima ilustre em bençãos as mais invejáveis os golpes da perversidade cahidos sobre sua pessoa e em flores de perdão que cubram a maldade de seus algozes, eu quero levar-lhe em meu nome e no de toda a minha familia a expressão mais sincera e mais christã da nossa solidariedade com V. Revdma., neste momento em que seu nome, ao contrario do que pensaram e do que pensam talvez, ainda, aquelles desvairados inimigos de nossa fé e da nossa Religião, em vez de apoucar sob a infâmia do atentado, sobe, cresce, avulta e se aureola ao fulgor de um martyrio soffrido pela causa sacrossanta da defesa dos mais indestructiveis sentimentos do nosso povo − os sentimentos de amor às verdades eternas da Religião Catholica, Apostolica e Romana!

É, pois, beijando-lhe as mãos de martyr que eu o abraço neste momento, fazendo minhas as palavras comoventes que lhe dirigiu D. Luiz Sant’Anna, unicas que encerram para todos nós o consolo supremo quando nos sentimos sob o peso da maldade humana.

Deus lhe conceda a fortaleza de animo para converter em palmas de triumpho aquillo que suppuzeram ser o seu aniquilamento moral e social, na ignorancia do anatema divino: “Não toqueis em meus Christos”.

Mande-me a sua benção: já não será a benção de um simples ministro de Deus, mas a benção de um martyr de sua doutrina, no cumprimento do dever apostolico.

Do amigo de sempre

Deiró Eunápio Borges

* 1: Leia “Alaor Porfírio de Azevedo e o Acabamento Interno da Nova Matriz”.

* 2: Angina de peito (angina pectoris) é a descrição utilizada para caracterizar a dor torácica causada pela falta de sangue (isquemia) que acomete o músculo cardíaco. A angina é quase sempre relacionada a doenças que causam obstrução nas artérias coronárias, responsáveis por levar sangue ao coração.

* Edição do texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fontes: Livros “Patrimônio de Santo Antônio − Do Sítio ao Templo”, de Sebastião Cordeiro de Queiroz (2016) e De “Deiró a Deiró Eunápio Borges Júnior − Menino de um Garoto de Recados”, de Deiró Eunápio Borges, e arquidiocesedeuberaba.org.br.

Foto: Livro “Patrimônio de Santo Antônio − Do Sítio ao Templo”, de Sebastião Cordeiro de Queiroz (2016).

Compartilhe