TEXTO: EITEL TEIXEIRA DANNEMANN (2022)
Sábado, 20 de agosto, por volta das 11 horas da manhã, lá ia eu numa de minhas andanças pelo Centro da Cidade quando reparei um aglomerado de pessoas no portão de entrada do estacionamento que funciona onde era o Cine Riviera, com muita falação, caixa de som nas alturas e buzinações com aquelas insuportáveis cornetas de ar comprimido. Chegando na muvuca, de certa distância presenciei o prefeito Luiz Eduardo Falcão Ferreira, alguns auxiliares e outros tantos distribuindo folhetos e cartazes. De que, para que, por quê? Lá estava o prefeito de Patos de Minas, sorridente, alegre demais da conta, com aquela turba, fazendo campanha para a esposa, candidata a deputada estadual. Pois é! No ato, um dos meus únicos dois neurônios, o Idi, me cutucou:
– O prefeito está no portão de um estacionamento particular que, como todos os demais, não cumprem as Leis dos Artigos 270 a 274 do nosso CÓDIGO DE POSTURAS, que é cobrar por fração de 15 minutos. Ele sabe disso, mas igualmente como todos os anteriores, não age!
Entendido o recado do Idi, eis que ouvi, vindo lá das bandas do Mercado Municipal, o barulho ensurdecedor de uma das inúmeras motos que infernizam os patenses há décadas. Quando ela chegou à frente da manifestação, o nefasto condutor diminuiu a velocidade, urrou com força o motor e seguiu seu destino infernizando o povo. A comitiva da campanha da primeira-dama, naquela animação toda, óbvio, nem percebeu. Foi a vez do meu outro neurônio, o Ota, me cutucar:
– Está vendo só, esta barulheira toda, de manhã, à tarde, à noite e de madrugada, que já é um caso de saúde pública há muito tempo, não foi suficiente para despertar a atenção do prefeito e daqueles que o acompanham, preocupadíssimos com a campanha da primeira-dama. Ele sabe disso, mas igualmente como todos os anteriores, não age!
Entendido o recado do Ota, o prefeito e sua turma de barulhentos seguiram em direção à esquina da Rua Major Gote com Olegário Maciel, se esgueirando dos toldos totalmente fora dos padrões estabelecidos pelas Leis do nosso CÓDIGO DE POSTURAS (Artigos 153 a 158), que podem causar transtornos físicos de leves a sérios aos pedestres, como já aconteceu. Certa vez, um daqueles cordões com uma argola na ponta que servem para movimentar o toldo e prendê-lo no passeio, bateu em meus óculos, que evitou a perfuração de meu olho. Outra vez o Idi opinou:
– Ele sabe disso, mas igualmente como todos os anteriores, não age!
Numa coincidência feliz, não demorou muito, eis que um bi-trem de pelo menos umas 60 toneladas, vindo pela Major Gote, cruzou a esquina numa dificuldade danada, tamanho o peso, que todo mundo sabe o quanto isso é prejudicial aos bolsos dos Contribuintes. Se somarmos todo o dinheiro do erário municipal já consumido para consertar os estragos causados por essas carretas na Rua Major Gote e outras vias do Centro dava para construir um hospital municipal e um monte de casas populares. Isso poderia acabar de uma vez por todas, como bem define o Artigo 91 do nosso CÓDIGO DE POSTURAS. Óbvio, que naquela alucinação da campanha da primeira-dama, os participantes não perceberam. Infelizmente, como muito lucidamente o Idi e o Ota afirmam, o prefeito sabe disso, mas igualmente como todos os anteriores, não age!
E para prejudicar mais ainda o trânsito intenso àquela hora, eis que surgiu uma carroça, também vindo das bandas do Mercado Municipal pela Olegário Maciel, cujo condutor entrou à direita na Rua Major Gote e continuou empacando o trânsito, tudo contra a Lei do Artigo 101 do nosso CÓDIGO DE POSTURAS. Logo a seguir passou pela esquina uma ambulância do SAMU em direção, tudo leva a crer, à Santa Casa. E lá na esquina, a zorra política continuava, com o prefeito cada vez mais sorridente e contente com a campanha política de sua esposa. Falando ao mesmo tempo, o Idi e o Ota não perdoaram:
– Coitado desse aí na ambulância, tomara que não precise de cirurgia, senão a família vai ter que fazer uma vaquinha pra pagar a cirurgia num hospital particular antes que ele morra, como já aconteceu com outros.
Deixando aquele povo na alegria fantasiosa, me afastei para a realidade na certeza de que, enquanto não tivermos um executivo, um legislativo e um ministério público trabalhando com a ÚNICA função de servir o Contribuinte, que é quem mantem o poder público e o Município, esses problemas estruturais e de saúde vão continuar eternamente, eleição após eleição, com o nosso CÓDIGO DE POSTURAS não servindo nem para papel higiênico. Eles sabem, mas como todos os anteriores, não agem!
E assim fui cuidar da minha vida com a eterna convicção de que a única função do Contribuinte na esfera política é manter economicamente o poder público e o Município até as próximas eleições para que tudo se repita, num cruel moto-perpétuo. E enquanto eu me retirava, o prefeito euforicamente se desvairava com a candidatura de sua esposa.
Não chores por mim, Patos de Minas, eu choro por ti!
* Foto: Istockphoto.com/br, meramente ilustrativa de uma representação de moto-perpétuo.