Como qualquer cidade do Brasil, sem exceção, desde os primórdios, Patos de Minas tem os seus mendigos. E eles são cíclicos, têm um tempo variável de convivência na comunidade e, não mais que de repente, somem, sendo substituídos por outros e assim sucessivamente, num processo infindável. Os articulistas do passado geraram inúmeros textos jornalísticos sobre a mendicância patense, sendo que um deles gerou tanta revolta dos coronéis da época que o autor teve 24 horas para deixar a Cidade porque as autoridades não tinham como lhe oferecer segurança¹.
Atualmente, como não poderia deixar de ser diferente, infelizmente, os mendigos grassam pela Sede e pelos Distritos, numa situação social que todos os de bom coração abominam por ser uma realidade cruel. Ao mesmo tempo, é bom frisar, que há o mendigo real, que é inofensivo, que é aquele que um motivo lhe colocou naquela situação contra a sua vontade e que, mesmo assim, mesmo mendigando, não oferece riscos às pessoas e por isso mesmo merece apoio. Agora, o que tem de mendigo-profissional zanzando por aí, que só quer zoar, beber, drogar-se e arrumar confusão, passa das centenas. São perigosos, traiçoeiros, não merecem ajuda alguma. Aliás, eles recusam ajuda, pois nos abrigos não podem fazer o que mais gostam.
E assim, os mendigos-profissionais, praticamente todos em reais condições de trabalharem, sentam-se às portas de comércios, principalmente alimentares, na esperança de ganharem uns trocados. Não muito raro, há desavenças entre eles pelo “ponto”. Confusão fatal com brigas e xingamentos que assustam os transeuntes. Os proprietários dos estabelecimentos comerciais nada podem fazer, pois não podem proibir a presença deles na porta de seus comércios. É um problema social seríssimo a ser sanado.
A tática é a de sempre: sentam-se no passeio, colocam umas moedas e algumas notas de dois reais no chão e ficam esperando a caridade do povo. Alguns deles frequentam regularmente a entrada traseira do Centro Comercial Pátio Central, Mercado Municipal, uma padaria na esquina das Ruas Major Gote e Cesário Alvim e um restaurante ali no mesmo quarteirão. Não vou citar as características dos mequetrefes porque não tenho absolutamente nada contra eles, apesar de serem autênticos vagabundos. Afinal, é muito mais cômodo mendigar do que trabalhar. Isso é uma questão social a ser sanada pelas autoridades. O que importa é que certa vez lá estava um deles na tal entrada traseira do Centro Comercial, na Rua Bernardes de Assis. Vindo de dentro do estacionamento, percebi a sua presença. Mas ele não percebeu a minha chegada. E quando cheguei, lá estava ele, na maior, de olho vidrado num desses celulares modernos. Assustado, escondeu o aparelho por debaixo da camisa e eu segui em frente.
Pois é, Patos de Minas tem mendigo tecnológico!
* 1: Leia “Terra da Fome e da Miséria”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.