Foi há aproximadamente quatro anos, em uma reunião do Conselho Patense de Defesa da Comunidade, que nos vimos pela primeira vez, e sem qualquer apresentação passamos a nos conhecer.
Confesso que a primeira impressão que tive dele foi um pouco estranha, exatamente pela sua simplicidade quase excessiva, que a mim, pareceu um pouco fora do padrão já visto anteriormente. Aparentemente jovem demais para a função que ocupava, tratava de maneira quase que familiar a todos que ali estavam, indiferentemente de idade ou cargos e profissões.
E ele, Tenente-Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais como os que haviam antecedido e igualmente Comandante do 15.º Batalhão, e não obstante a imponência de seu nome a lembrar o antigo general romano (Marco Antônio Comini Christófaro), ali se apresentava simplesmente como o COMINI. E foi assim que passei a conhecê-lo e a tratá-lo daí por diante, numa intimidade que a princípio me constrangia.
No exercício de seu cargo, sem ferir a dignidade de sua patente militar e nem descer da importância de sua alta função, exercida de maneira brilhante, proporcionando ao município de Patos e a toda a imensa área da jurisdição do 15.º BPM a tranquilidade e a segurança por todos almejadas, respeitando sempre seus companheiros de farda e fazendo-se respeitar por todos eles, agindo com energia mas acima de tudo com alto espírito de humanidade e elevado bom-senso, passou a receber a admiração de todos.
Presente nos momentos importantes vividos pela comunidade, passou a participar ativa e efetivamente de vida de nosso povo, através de atos e de sua palavra fácil e igualmente simples e disto fui testemunha muitas vezes, ao participar com ele especialmente dos trabalhos do Conselho Patense de Defesa da Comunidade e da CONDEC, quando pude conhecê-lo mais de perto.
Ingressara na Polícia aos quinze anos de idade para integrar a escola de música, atendendo à sua vocação que agora se patenteava, pela sensibilidade da alma daqueles que se entregam a esta arte quase que sublime.
Assim, acostumamo-nos a vê-lo com sua flauta transversal, unido a grupos de jovens, ou de pessoas adultas, ou até mais idosas, em palcos e tablados, como por exemplo no show “Vinicius − o Poeta do Amor” e no “Encontrão − Cantar na Praça” ou nos festivais promovidos pela UEP; ou como integrante do Conjunto “Carinhoso”; ou mesmo nos barzinhos e botequins, a desfilar a sua arte, para deleite de sua alma e das almas dos outros.
Desta forma, foi ele ganhando a simpatia do patense e ao que tudo indica, numa reciprocidade verdadeira, fomos nós ganhando a sua simpatia, até que de repente, passou a circular a notícia de que ele iria se aposentar (ou passar para a reserva, conforme a linguagem militar) e com a notícia, vinha a expectativa: − “Será que vamos perder o Comini?”. Mas logo, viria a sua palavra tranquilizadora: − “Adquiri uma casa, e irei fixar-me aqui, onde eu, minha esposa e minhas duas filhas nos sentimos muito bem”.
No último dia 15, juntamente com um grande número de pessoas, dentre as quais as mais destacadas autoridades de toda a região, pude vê-lo em ato solene, envergando sua farda de gala − e agora de Coronel − passar o comando do Batalhão ao Tenente-Coronel PM Raimundo Nonato Vieira, para em seguida, conforme as próprias palavras do boletim do dia, “transpor os portões do quartel, na condição de civil”.
A partir daquele momento, a cidade ganhava mais um patense autêntico. Sem o famoso título honorário. Mas de coração e por livre opção. E eu daqui lhe digo: seja feliz entre nós, prezado Comini.
* Fonte: Texto de Dirceu Deocleciano Pacheco publicado com o título “Exemplo de Simplicidade” no Editorial do n.º 89 de 31 de março de 1984 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.
* Foto: Facebook.com/marcoantonio.cominichristofaro.