Santana de Patos é o distrito mais antigo de Patos de Minas e sua história está recheada de lendas.
Localizada em um bucólico sítio, a povoação ainda traz em seus casarões soberbos e centenários as marcas de um passado glorioso, que no presente alguns moradores, com orgulho, transformam prazerosamente em lendas. Uma delas, é que, quando foram reformar a igreja acharam uma viga de madeira onde havia entalhada a data de “1712”. Outra é que já houve uma “Capela do Rosário”, que foi demolida e estava localizada onde hoje é a Escola Estadual. Contam também que o primitivo cemitério era situado onde atualmente é a praça da Matriz. Outro morador diz que Santana já foi grande produtora de peixes. E que os muros de pedra seca foram construídos por numerosos escravos. Narram ainda, a legendário história de um pároco local que andava armado e que em certa ocasião exortou a população “apelo menos caiar” a fachada das casas que estavam muito sujas. O que foi feito. Mas o que é história ou lenda só um resgate histórico urgente pode nos determinar.
Com relação à história, não nos foi possível − e também fugiria ao âmbito de um artigo de revista − fazer uma pesquisa aprofundada em fontes primárias manuscritas e/ou fonte iconográfica possivelmente existentes. Baseamos nossa breve crônica em fontes compiladas e transcritas por Geraldo Fonseca (Domínio de Pecuários e Enxadachins-1974) e Oliveira Mello (Patos de Minas: Minha Cidade-1978 e 1982 − A Igreja em Patos de Minas-1983).
Para Geraldo Fonseca, a povoação teve início em 1806. E em 1822, foi construída a primitiva capela dedicada a Santa Ana, mãe e mestra de Nossa Senhora, mãe de Jesus Cristo, que a partir de então seria a padroeira, cuja festa se comemora em 26 de julho. Segundo Oliveira Mello, as terras para construir o patrimônio da paróquia foram doados por D. Ana Soares da Encarnação. E segundo Geraldo Fonseca, o relatório do governo, de 1855, traz informação das autoridades de Patrocínio, sobre o patrimônio da Capela de Sant’Ana da Barra do Rio Espírito Santo, 80 alqueires de terras de culturas e campos.
A Igreja Matriz atual sofreu várias reformas e o seu frontispício foi modificado e acrescido de uma torre sineira, possivelmente entre os anos de 1933 e 1935, pelo Padre Francisco Curvello. Mas o partido arquitetônico original da igreja parece que continua o mesmo e compõe-se de nave, capela-mor e corredores laterais. O retábulo é majestoso, mas simples e sobre a penha está a imagem da padroeira Santa Ana, que disseram não ser a original, que foi roubada. As proporções da igreja são de bom tamanho, resquício de alguma opulência do passado. O sino do campanário data de 1954. Existe no coro, um órgão totalmente danificado. A paróquia foi criada pela Lei n.º 1903 de 1872.
Administrativamente, Santana pertenceu primeiro ao Termo de São Domingos do Araxá, que até 1816, fazia parte da Província de Goiás. Em 15 de outubro de 1827, ela foi elevada a Distrito de Araxá, até que em 1840, com a criação da Vila do Patrocínio, Santana passa a ser seu distrito até 1866.
E o que não deixa de ser intrigante, é que o povoado de Santo Antônio da Beira do Paranaíba − antigo nome de Patos de Minas − era uma “aplicação”, um povoado que dependia judicialmente (Juiz de Paz) e espiritualmente (batizados, casamentos, etc.) de Santana até 17 de janeiro de 1832 quando foi elevada a Distrito de Patrocínio. Entretanto, em 1866, pela Lei n.º 1.291, de 30 de outubro, que elevou Patos à categoria de Vila, Santana passou a ser seu distrito.
Os documentos compilados por Geraldo Fonseca, em que segundo ele, encontram “elementos preciosos”, pudemos ter acesso a alguns aspectos da história de Santana. Em um desses documentos, de 1827, encontramos que Santana já possuía uma escola custeada pelos moradores com “sete discípulos”. No entanto, em 1832, no ano de elevação de Patos a distrito, o povoado já experimentava uma certa decadência e por fim a estagnação, e o Juiz suplente, Francisco de Paula Gomes, aponta que “não temos uma escola particular neste Distrito”. Outro Juiz, Luiz Alberto Duarte de Albuquerque, em 1836, relata que “esta povoação compõe-se de dezoito casas habitadas e as demais vazias…”. Já Patos, em seu primeiro recenseamento feito em 1834 contava com 806 habitantes (411 brancos, 260 pardos livres, 29 pardos escravos, 6 pretos livres e 100 pretos escravos).
A partir de 1911, já aparece a denominação Santana de Patos e o Decreto-Lei n.º 88 de 30 de março de 1938 torna-o definitivo.
No nosso entendimento, Sant’Ana da Barra do Espírito Santo (que também já foi chamado de Sant’Ana do Paranaíba) é um nicho histórico riquíssimo e de grande valor. Quanto à sua arquitetura civil e religiosa, ela já se encontra bastante descaracterizada, mas a memória histórica (inclusive econômica e social) e iconográfica ainda pode ser restaurada e preservada.
* Fonte: Texto de José Eduardo de Oliveira publicado com o título “Lenda e História − Sant’Ana da Barra do Espírito Santo” na edição de fevereiro/março de 1995 da revista Diga, do arquivo de Luís Carlos Cardoso.
* Foto: Publicada em 18/07/2016 com o título “Santana de Patos e o Grande Sertão: Veredas”.