Ao redor da Banca Avenida, em frente ao antigo Fórum, há uma patota já com alta quilometragem que costuma se reunir e trocar ideias, pois todos eles têm ideias repetidas. No ano passado, no início da era Covid-19, poucos usavam máscara e conversavam quase que se beijando. Depois, com a mortandade a olhos vistos, com os perrengues que muitos passaram numa UTI e conseguiram se salvar, com a morte de vacinados e com as novas variantes, a turma já entrou naquela de se proteger ao máximo, e, mesmo todos já devidamente vacinados, não se encontra nenhum deles sem máscara. Numa certa manhã, o assunto não poderia ser outro: Covid-19.
– Li num lembro aonde que depois que começou a vacinação no mundo todo, essa disgranhenta pandemia começou a recuar.
– Vacina, meu prezado, é a nossa maior proteção. E mesmo assim não estamos totalmente seguros, por isso, mesmo vacinados, temos que continuar a nos comportar como se não estivéssemos vacinados.
– E se aqui em Patos de Minas não tivesse um monte de bocós reunidos em festanças, já estaríamos em melhores condições.
– É, festas comerciais que contribuíram e muito para a difusão do vírus. E o que aconteceu com esses criminosos que promoveram as festas? Uma multinha só, quando deveriam estar presos.
– E se também não tivesse um monte de bocós se aglomerando nas filas de qualquer espécie, amontoados em lojas e se não tivesse um monte de bocós sem máscara?
– Pois é, o trem é feio, mas tem gente pior do que todos esses aí, que são aqueles que recusam a vacina porque acreditam em notícias falsas e com isso contribuem em muito para complicar a situação.
– Mas peraí, tem gente que não quer receber a vacina aqui em Patos de Minas?
– Ô, e como! Para esses bocós, praticamente o mundo todo está errado e eles se apegam nas opiniões de uns irresponsáveis e acreditam piamente que a vacina não resolve nada e, pior, pode fazer mal a eles. Enquanto milhões e milhões de pessoas no mundo todo estão agradecidos por já receberem a vacina e outros milhões aguardam ansiosamente a sua vez, tem os bocós que recusam.
– Esses não só bocós, são uns estúpidos. Conheço um casal assim e ainda por cima a mãe está brigando com o filho porque o jovem quer ser vacinado. E, pior, uma imbecilidade tremenda, a mãe não levou a sua mãe idosa para receber a vacina. Ah, tem ainda a irmã do marido que também está nessa e fiquei sabendo que os médicos recomendaram aos outros irmãos impediram os dois de frequentarem a casa de seus pais. Pois não é que os dois filhos não vacinados se sentiram magoados?
– Certíssimo, estão se defendendo e defendendo os seus pais. Magoados? Ora, isso é cretinice. Se fosse no tempo da Revolta da Vacina em 1904, tudo bem, mas em pleno 2021 existir esse tipo de gente é inadmissível, inacreditável.
– Uai, sô, lembra da crise da gripe parainfluenza há pouco tempo e que surgiu também, rapidinho, uma vacina? Será que esses mesmos bocós também se recusaram a receber a vacina da gripe?
– É gente, nós aqui já na expectativa da possibilidade de recebermos a 3.ª dose da Covid-19, e quantas mais tâmo nessa, temos que conviver com esse tipo de gente que contribui demais da conta para intensificar endemias e pandemias.
E o assunto foi longe. Conferindo os relógios, quase onze da manhã, a turma se debandou, na certeza de que, enquanto existirem bocós contra a vacina no mundo, os vacinados que se cuidem evitando contato próximo com os tais bocós.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970.