QUANDO ROBERTO MARINHO RECEBEU O TÍTULO DE CIDADÃO PATENSE

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TEXTO: CHICO TERRA (1983)

Isola! Sai capeta! Essa é para bater nove vezes na madeira e não só três. Para espírito destrambelhado como esse, tem que ser trabalho de força tripla. Não bastasse a invasão todos os dias e todos os momentos em nossas terras, das novelas; dos filmezinhos americanos (para não pagar um preço digno aos filmes brasileiros); das propagandas que nos obrigam a comer tal produto, a vestir tal roupa porque “é chic”, a “ir ao sucesso” com tal marca de cigarro (como se o cigarro fosse o tonificante para o esporte), a só ouvir os discos da Som Livre ou de outras multi-nacionais americanas que financiam o grupo Roberto Marinho, popularmente chamado Rede Globo (aliás, ele que se cuide, pois tem um candidato forte a “abrir as pernas” aos americanos, portanto, fator de ciúmes e enxaquecas, que se chama − e isto é nome! − Señor Abravanel, vulgo Silvio Santos).

Pois bem, não bastasse essa “máquina de fazer doidos”, como bem dizia o genial Stanislaw Ponte Preta, a nos fazer debilóides eletrônicos, me aparece quem? , quem senão o dono, simplesmente o marajá deste outro país que se chama Rede Globo de Televisão, a receber comendas honoríficas. Digo outro país, porque tenho viajado por este Brasil a fora e juro, juro de pés juntos e mãos sobre a Bíblia, que no Brasil dos 90% não existe aquelas situações, aquele luxo mostrado entre uma cena e outra de intrigas mesquinhas, chamada novelas. Só se existe no Brasil dos 10%! Esse que “eles” dizem ser rico e no qual a Globo é a toda poderosa dona.

Vejam vocês que agora os paparicadores dessa gentalha, que se viram ao avesso para fazerem parte desses 10%, não só contentes em trazer o homem à cidade (direito de qualquer um que queira anfitrionar pessoas, desde que com dinheiro do próprio bolso), ainda me enchem o dito cujo com as benesses de títulos que deveriam ser dados aos cidadãos que realmente fizeram alguma coisa para a cidade, e não para um senhor que só sabe em que Estado fica Patos de Minas, porque não sendo muito burro notará a evidência no próprio nome.

“Cidadão Honorário”!!! Só mesmo de cabeças insanas e ávidas de aparecerem sairia tal idéia.

Ô Comissão Festa do Milho (que eu sei muito bem quem são as pessoas, visto que estando distante sou leitor assíduo de “O Mirador”, como de resto de toda a “A Debulha”) se queriam aparecer na televisão, por que não fizeram como o ATAIDÃO (Ataídes, ex-prefeito) que quando quis aparecer, comprou o horário da TV Triângulo (ou foi outra, não me lembro) para que a própria o entrevistasse em seu gabinete na Prefeitura. Pelo menos seria mais honesto. Aliás, falando em horário, por que ao invés de “Cidadão Honorário” não dão ao Sr. Roberto Marinho o título de “Cidadão Horário”, assim ficaria mais em conta repetir a presepada todos os dias.

− Maria, qual o horário que vai passar o “Cidadão Horário”?

− Não sei patroa, às seis é “Paraíso”, às sete é “Final Feliz”, deve ser às oito.

− Ah, então posso ir visitar minha cunhada, esse programa é muito chato!

Acontecesse em outra cidade não me importaria (afinal, pimenta no dos outros é refresco), mas em MINHA cidade (aí nasci e aí vivi até os 20 anos) é para morrer de tristeza.

Fosse conferido tal título na gestão Dácio Pereira, vá lá, todo mundo sabe que ele é “assim com os home”, mas na gestão Arlindo!!! E a oposição, onde fica? Ou será que o Arlindo e os da Câmara (que têm maioria do PMDB) desconhecem que depois do Presidente da República é o Sr. Roberto Marinho o homem de maior poder neste país. E por isto, para não se ver de pé deste poder, ele está sempre às barras do Palácio do Planalto paparicando e se valendo das benesses dos “home”. Sei não, mas isto me parece puxa-saquismo por tabela.

Eu, como cidadão que amo minha cidade (e como amo!) não irei este ano à Festa do Milho (no que não faz muita diferença, visto que o cidadão patense “é mais insignificante que o “Cidadão Honorário”, principalmente se este é o dono da Globo). Não me meto em festas onde se tem patrono de tal calibre. Já bastou o ano passado quando a Coca-cola patrocinou todas as barracas do Paiolão e por isso mesmo, só se sentava em cadeiras da coca-cola; só se bebia em mesas da coca-cola; só se entrava em barracas com as cores da coca-cola; só se ingeriam produtos da coca-cola; e o pior, só se pagavam os preços da coca-cola!

Avivo minha nostalgia para perguntar onde andam artistas do caráter e criatividade de um Vicente Nepomuceno? Onde andam as atividades que se davam na Av. Getúlio Vargas e não eram comerciais como as do Paiolão, além de que, realmente aglomeravam o povo? (leio em outra parte d’A Debulha que este ano voltarão algumas atividades na Avenida. Bastante louvável se realmente acontecer).

Continuo batendo na madeira, isola três vezes três, isto de Roberto Marinho é praga brava. E pega! Afe.

NOTA: Roberto Marinho recebeu o título de Cidadão Patense em 1983, por indicação do vereador Sílvio Gomes de Deus. Leia “Cidadãos Patenses”.

* Fonte: Texto publicado com o título “O fantástico show da mulher da vida na Festa do Milho” na edição n.º 67 de 15 de abril de 1983 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Roberto Marinho em 1983, de noticiasdatv.uol.com.br.

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