TELEVISÃO NO INÍCIO DA DÉCADA DE 1980, A

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Este é um assunto sobre o qual, muito já se falou, muito já se discutiu e muito já se fez, mas muito ainda há que se falar, que se discutir e que se fazer.

Despertados por uma carta recebida há dias, de nosso prezado assinante Artur Humberto Rocha Magalhães, iniciamos um trabalho de pesquisa sobre o assunto, que agora apresentamos.

Transcrevemos a referida carta, mas antes porém, queremos registrar nossos agradecimentos ao prezado leitor, pelos cumprimentos que ele nos apresenta e pela maneira bondosa com a qual ele se refere ao nosso modesto e despretensioso trabalho. São atitudes como estas, que nos incentivam e nos estimulam a continuar esta tarefa que muitos nem sequer imaginam o quanto é árdua, ou seja, fazer imprensa no interior.

A CARTA

Patos de Minas, 13/setembro/82

Senhor Diretor,

Por intermédio desta, apresento a V.S., bem como a todos os responsáveis pela “A Debulha”, meus cumprimentos pela maneira humana e profissional com que tão bem estão comportando à frente dessa querida revista.

É com satisfação e orgulho que tenho observado em “A Debulha”, conteúdos atestatórios da competência de seus responsáveis, nessa difícil missão de informar, demonstrando um jornalismo imparcial, objetivo, sério, enfim, virtudes que fazem com que, sabendo do passado, observando o presente, acreditamos será brilhante o futuro de “A Debulha”.

Satisfazendo meu desejo e dever de parabenizá-los e agradecer-lhes pelo que nos têm oferecido, valho-me dessa para solicitar-lhes informações sobre algo que se não é o de mais importante para nossa região, entendo que tem grande importância, ou seja: A Televisão em Patos.

Informo-lhe, que de há muito me sinto frustrado em relação à situação da Televisão em Patos, frustração que se acentua quando tenho oportunidade de visitar outras cidades, que recebem imagens de vários canais, tendo consequentemente mais opções em termos de programas, tais como: educativos, esportivos, informativos, políticos, musicais, etc.

Sabemos nós, que atualmente somente a TV Triângulo (Globo) está funcionando normalmente e com programação mais direcionada para as coisas do Rio de Janeiro e que, com a TV Uberaba, praticamente não temos podido contar com suas imagens.

Sabemos também, que há algum tempo foi comentado sobre a possibilidade de recebermos imagens da TV Paranaíba, de Uberlândia, ligada se não me engano à TV Bandeirantes de São Paulo.

Devo dizer-lhe, senhor diretor, que fiquei surpreso quando tomei conhecimento de que elementos de nossa comunidade estavam interessados em implantar em Patos uma Emissora de Televisão, o que seria muito bom e faria justiça às nossas potencialidades mas, pergunto eu, será possível a curto prazo tal empreendimento? Não seria mais conveniente resolvermos o problema da TV Uberaba e TV Paranaíba, trabalhando paralelamente para a médio prazo conseguir uma Emissora para Patos?

Enfim, caro jornalista, gostaria que nos informassem mais sobre este assunto, pelo motivo de que o mesmo nos é fascinante e para que possamos fazer justiça a quem de direito e não fazermos observações sem maiores conhecimentos.

Na certeza de que, ao lado de outros abnegados defensores dos interesses da região, esta revista estará empenhada em debater e ajudar a solucionar o problema, valendo-me da oportunidade, renovo-lhe meus protestos de amizade e apreço.

Cordialmente,

Arthur Humberto Rocha Magalhães

A TV EM PATOS

Alguns meses atrás, a situação estava realmente calamitosa. Foi quando escrevemos o Editorial “INSTRUMENTO DE SUPLÍCIO” (veja o N.º 45 de 15/04/82)¹, que provocou a imediata reação do Prefeito Municipal e nosso prezado amigo Dr. Dácio Pereira da Fonseca, que nos enviou um cartão, acompanhado de cópias dos contratos firmados entre a Prefeitura Municipal de Patos de Minas e as TVs Triângulo (Uberlândia) e Uberaba, onde na cláusula terceira, item 6 da TV Uberaba e item 7 da TV Triângulo, lê-se que a Prefeitura não tem qualquer responsabilidade na manutenção do sinal, pois compete às referidas emissoras, “garantir a boa qualidade: do sinal e das instalações e fornecer após a conclusão dos serviços de instalação, a manutenção preventiva, periódica e de emergência dos equipamentos e da infra-estrutura”.

No número 47, publicamos os referidos esclarecimentos (foto 2).

A TV TRIÂNGULO
(Rede Globo)

Logo após a publicação daquele editorial, recebemos a visita do Sr. Sinval Gonçalves Pereira, Técnico Responsável pela manutenção da TV Triângulo, de Uberlândia, que transmite a programação da Rede Globo, que nos informou de alguns problemas surgidos naqueles dias, os quais já estavam sanados e realmente, temos recebido imagem e som daquela emissora, em excelente qualidade, portanto, cabe-nos hoje, apenas cumprimentar àquele técnico e à direção da emissora, que tem nos servido muito bem.

TV UBERABA
(SBT)

Já a TV Uberaba, da cidade que lhe empresta o nome e que transmite a programação do Sistema Brasileiro de Televisão, está desde há muito tempo, naquela base: às vezes tem som e às vezes tem imagem e na maioria das vezes nem tem nem uma coisa nem outra, além da irregularidade de ser às vezes sintonizada (muito mal) em alguns pontos da cidade e em outros não.

Tão logo recebemos a carta ligamos para a direção daquela emissora (telefone 332.1957), para falar com o Diretor Paulo Cabral, que estava no momento em uma reunião e não poderia nos atender, quando solicitamos à sua secretária que pedisse enviar-nos uma carta de esclarecimentos sobre o assunto, informando-nos o que vinha sendo feito para sanar o problema.

Vinte e oito dias depois, ligamos novamente e ao que nos pareceu, aquela secretária nem mesmo havia lhe transmitido a nossa solicitação e o Diretor não estava presente.

Dois dias após, fizemos nova tentativa e novamente o Diretor não pôde nos atender, pois novamente estava em reunião. Dessa vez a secretária era outra e fizemos a ela o mesmo pedido, estando aguardando qualquer pronunciamento.

Mantivemos então um contato telefônico com o Sr. João Carlos Rodrigues (Zicão), que não é técnico no assunto, mas apenas zelador do transmissor daquela emissora aqui instalado.

Recebeu-nos ele, com a maior educação e boa vontade, esclarecendo apenas aquilo “que estava ao seu alcance”, ou seja:

a) Existem três torres repetidoras de Uberaba até aqui: uma em Sacramento, uma em Araxá, no Morro da Ventania e outra em Serra do Salitre e como é natural, todas elas estão sempre sujeitas a avarias, como a que ocorreu recentemente em Araxá e que perdurou por vinte e oito dias, só voltando a funcionar (e muito mal) no último dia 8.
b) Alguns equipamentos já obsoletos estão sendo substituídos, mas ele não sabe informar quando o serão.
c) Não existe aqui um técnico para a manutenção e ele mesmo, “contando com a boa vontade e colaboração do Sinval”, “vem quebrando algum galho”.

Continuaremos aguardando algum pronunciamento da direção daquela emissora, que continua aqui chegando, nas piores condições possíveis, ou não chegando de jeito nenhum, como ocorreu exatamente agora (20:30 horas do dia 21/10/82).

SUGESTÃO

Quando do editorial referido, recebemos de nosso assinante e caro amigo Dr. Adelson de Queiroz Garcia, patense que é médico e funcionário do Banco do Brasil, na cidade de Palmares, no Estado de Pernambuco, a seguinte carta:

Palmares (PE), 21.05.82

Prezado Dirceu,

Tenho lido tudo de A Debulha.

Há algum tempo você escreveu um artigo sobre as falhas da TV aí na região. No último número há mais referência às tais falhas. Sintoma de que ninguém aí conseguiu resolver a questão.

Ocorre que acabei me tornando perito em tal tipo de problema. Desde que aqui cheguei que a TV tem apresentado falhas, principalmente em época de chuvas e, aqui, na Zona da Mata, chove muito mais do que aí. Todos eram unânimes em dizer que não havia solução.

Enviei cartas ao Roberto Marinho e nem recebi resposta. Gastei muito interurbano para reclamar na TV Globo em Recife. Limitavam-se a dizer que o problema era com o DETELPE que retransmitia para o interior de Pernambuco.

Falei com os políticos locais e de nada valeu. Aí lembrei-me de uma questão muito importante: quem paga tudo é o anunciante. O telespectador não paga diretamente nada. Mas o anunciante paga tudo.

Escrevi a vários anunciantes fortes, tipo Mesbla, Bompreço (supermercado), Pernambucanas, etc. Fui a Caruaru (cidade quase do porte de Uberlândia) e reclamei, isso é, relatei diretamente aos anunciantes locais o que ocorria com a transmissão da TV Globo aqui na região. Muitos deles se mostraram indignados com o desperdício de dinheiro que estavam tendo com uma propaganda falha.

Devem ter reclamado muito na direção da TV Globo e junto às agências de propaganda. Só sei que foi uma solução fantástica. De um mês para cá a TV não sai do ar de modo nenhum.

Então, parece-me, que é só questão de escrever cartas aos anunciantes que eles se encarregam de resolver a questão.

Abraços do amigo

Adelson

Quem sabe o Conselho Patense de Defesa da Comunidade, por exemplo, quer aproveitar a sugestão…

TV PARANAÍBA
(Rede Bandeirantes)

Junto a elementos da Prefeitura, conseguimos colher as seguintes informações:

Intentando trazer para Patos de Minas imagem e som de mais um canal de televisão, uma comissão de nossa cidade, formada por membros da Prefeitura e da comunidade, no ano de 1979, dirigiu-se a Uberlândia, onde entrou em entendimento com a direção da TV Paranaíba, da Rede Bandeirantes.

À época, juntamente com comissões de outras cidades, solicitou-se à TV Paranaíba, um estudo sobre a viabilidade de implantação de uma rede de torres retransmissoras, nos moldes da já existente (TV Triângulo), para servir aos municípios de Monte Carmelo, Patrocínio, Guimarânia e Patos de Minas.

Cada um dos municípios entraria com uma quota-parte do total das despesas, proporcionalmente à sua distância em relação à emissora. Em outras palavras, os municípios mais distantes pagariam uma parcela maior da despesa com a instalação do sistema.

Feitas as contas pela TV Paranaíba, apresentou-se um orçamento de aproximadamente Cr$ 6.000.000,00.

A comissão encarregada de manter os contatos, por outro lado, solicitou a um técnico especializado no setor um orçamento com os valores aproximados, para que fosse possível aos municípios interessados negociar com a TV Paranaíba os custos do sistema. O orçamento apresentado pelo técnico girou em torno de Cr$ 2.800.000,00, quantia que, acrescida de 10% do valor, para possíveis flutuações de preço, totalizaria aproximadamente Cr$ 3.000.000,00.

A diferença apresentada entre os dois orçamentos não foi possível aplainar, fato que levou os municípios interessados a desistirem do empreendimento.

Dessa data até o momento presente, pelo menos no que toca ao município de Patos de Minas, não existe nada de concreto a respeito do assunto, embora a TV Paranaíba haja anunciado a entrada de seu som e imagem em nossa região.

IMPLANTAÇÃO DE UMA EMISSORA DE TELEVISÃO EM PATOS?

Realmente a idéia surgiu no Conselho Patense de Defesa da Comunidade, iniciando-se os estudos de constituição de um grupo forte financeiramente, para o empreendimento.

Após várias discussões, resolveu-se transferir o assunto para a Associação Comercial e Industrial de Patos de Minas, de cujo seio poderiam surgir os prováveis componentes do grupo.

Tem-se ponderado muito sobre o alto custo do empreendimento e parece não haver muito entusiasmo, entretanto, os estudos prosseguem.

* 1: Leia “TV em 1982: Instrumento de Suplício”.

* Fonte: Texto publicado com o título “A Televisão em Patos de Minas” na edição n.º 58 de 31 de outubro de 1982 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Fotos: Trechos do texto original.

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