Quando o primeiro avião pousou no rústico campo de aviação da Chapada¹, a impressão que se tinha era que toda a população de Patos sem ainda o “de Minas” estava lá. Desde então, o entusiasmo pelo avião tomou conta dos patenses, e se intensificou demais da conta com a inauguração da Companhia Moinhos Minas Gerais em 1938 e a vinda da Panair em 1942². Enquanto tudo isso acontecia, lá pras bandas do distrito de Chumbo residia o Nhô Romão, conhecido e respeitado fazendeiro da região, que ia à Sede de vez em quando e nunca tinha ouvido falar de avião.
Por uma baita coincidência, numa de suas visitas com um dos filhos, um teco-teco tinha acabado de pousar no exato momento em que estava chegando com sua camionete Ford. Impressionado, ficou curiosíssimo e quis por quis conhecer aquele troço voador. E ele foi lá. E o piloto, muito gentil, mostrou tudo. Foi então que o Nhô Romão cismou de voar no teco-teco. Mas dependia do proprietário que estava em negócios na Cidade. Em chegando, o empresário prometeu que em sua próxima visita permitiria ao idoso realizar o seu sonho num sobrevoo de poucos minutos por sobre a Cidade.
Foram dois meses de angústia. Lá pras bandas do Ribeirão Pindaíbas, Nhô Romão deu trabalho à família por causa do nervosismo da espera. Nem comer o homem queria. Trabalhar na roça, nem pensar. Ficava o dia todo deitado na rede do alpendre imaginando-se apreciar os tetos das casas. À noite, rolava na cama e custava a dormir, incomodando deveras a patroa.
Mas, ufa, finalmente chegou o dia. Lá estavam o Nhô Romão e seu filho sobrevoando Patos. O piloto, que já conhecia muito bem a Cidade por causa das constantes visitas do patrão, foi apontando os lugares que ele considerava interessantes:
– Ali é a Cadeia, olha lá a casa onde morou o Presidente Olegário Maciel, estamos agora passando pelo Grupo Escolar Marcolino de Barros. Me contaram que no ano passado aqui caiu o primeiro avião³, bem em frente, uma tragédia que matou três pessoas e…
O homem não terminou a fala, pois, de olhos esbugalhados, Nhô Romão, com voz embargada, perguntou:
– Esse troço cai?
No que o piloto respondeu que de vez em quando acontecia de um cair, o idoso entrou em pânico e começou a gritar:
– Cruz Credo Ave Maria, Nossa Senhora da Abadia, me leve pra baixo, me leve pra baixo, me leve pra baixo…
* 1: Leia “1.º Pouso de um Avião”, “A Chapada na Década de 1940” e “Patos de Minas na Década de 1940”.
* 2: Leia “A Vida da Cia. Moinhos Minas Gerais S/A”, “Companhia Moinhos Minas Gerais S/A”, “A Queda da Cia. Moinhos Minas Gerais S/A”, “Inauguração do Moinho de Trigo”, “Moinho de Trigo em 1940”, “Anunciada a vinda da Panair”, “A Chegada da Panair e a Necessidade de Novo Aeródromo” e “Inaugurada a Linha da Panair”.
* 3: Leia “1.º Acidente Aéreo” e “1.º Acidente Aéreo − Os Corpos”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.