Depois de economizar dinheiro durante três anos, o Jurandir finalmente adquiriu condições de atender a exigência de sua esposa Marieta: reformar o telhado da casa onde moram no Bairro Cristo Redentor, pertinho da Rodoviária, na época da revitalização da Lagoa Grande¹. Para tanto, encomendou o serviço a um profissional autônomo do ramo que um vizinho lhe indicou. O entendido mediu, calculou e passou a lista do madeiramento necessário e da quantidade de telhas. O Jurandir foi categórico:
– Não quero que sobre madeiramento e telhas, pois se sobrar desconto no preço do serviço.
O telhadeiro, que é gago, também foi categórico:
– Sosou profifissional, não eeerro nos meeeus cáaalculos.
O reparo foi feito e ficou de primeira. Mas houve um enorme problema: sobrou um pendural central, alguns pontaletes, duas empenas, três escoras, duas terças e alguns caibros e ripas e trinta telhas. Como o decretado, Jurandir descontou o valor das peças e o telhadeiro foi-se embora fulo da vida levando aquele material.
Três dias depois, de manhãzinha, ao sair para o trabalho o casal ficou estupefato ao ver um cartaz afixado na parede da frente da casa que denegria a moral dos dois. Jurandir e Marieta ficaram chocados, e, com muita vergonha, acionaram a polícia. Os vizinhos, óbvio, se divertiam com a tristeza dos dois, pois trem que mais agrada ao ser humano, no geral, é apreciar a desgraça dos outros.
Felizmente, para alegria do Jurandir e da Marieta, não foi necessária muita investigação da polícia para se descobrir o autor do crime, e logo de tardinha elucidaram o caso. O autor da falsa chacota, naquela de vingança, foi o telhadeiro gago. Assim, o feliz casal se viu livre das maledicências dos vizinhos. Como descobriram? Ora, num tremendo vacilo, o telhadeiro gago escreveu no cartaz:
O JUJURANDIR É COORRRNO!
* 1: Leia “Revitalização da Lagoa Grande: À Moda da Casa”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.