Entrevista concedida à Inez Marina, quando do coquetel e entrega dos prêmios aos campeões de Xadrez do “Torneio de Xadrez Dr. Paulo Roberto Ferreira Borges” no Patos Social Clube, dia 23 de fevereiro, pelo Presidente do Clube de Xadrez Patos de Minas Marcos José de Queiroz Garcia e pelo Vice-Presidente Dr. João Pessoa de Lima.
O Clube de Xadrez Patos de Minas tem a sua sede à Rua José de Santana, 620 − Sala 12 − 3.º Andar (prédio onde funciona a SINGER), está aberto a todos os enxadristas, estando recebendo propostas para novos associados. Para maiores informações procurar a sede do Clube no horário da noite.
É isso aí, vemos que a cada dia os movimentos culturais patenses estão crescendo de uma maneira gratificante. É mais uma prova de que realmente precisamos de uma CASA DE CULTURA.
O Xadrez em Patos teve seu inicio quando, de uma forma mais ampla?
A gente dizer com uma precisão absoluta quando o xadrez iniciou sua prática aqui em Patos, é difícil. Moro em Patos há 21 anos e como é o meu passatempo predileto, procurei difundi-lo. E como sempre acontece, tudo que está iniciando é muito difícil. Teve fases em que o entusiasmo tomava conta de um número suficiente para divulgar o Xadrez e houve também um certo esfriamento; e assim por diversas vezes aconteceu dessa mesma forma. Depois que a equipe de Patos foi, no ano passado, participar do Torneio de Xadrez do Triângulo Mineiro, em que a equipe apareceu um tanto desacreditada, e ninguém colocava fé, nós tivemos até uma participação brilhante, a ponto dos próprios organizadores do torneio considerar a equipe de Patos como a supressa do torneio.
Quais foram os seus idealizadores?
O Xadrez em Patos sempre teve um número de pessoas praticantes e tivemos oportunidade de jogar com inúmeras pessoas que, se fôssemos citar o nome, poderíamos esquecer de dizer alguém. Pessoas como o Zé Costa que morou muito tempo aqui e que gosta de praticar e colaborar também para a divulgação do Xadrez. Também o Prof. Alfredo Armada, que por sinal, foi a primeira pessoa com quem tive oportunidade de jogar aqui em patos; e o próprio presidente do Clube que tem dado muito de si para o desenvolvimento do Xadrez, que é o Marcos José Queiroz Garcia e todos os outros 30 participantes desse torneio de xadrez, têm colaborado para o incremento do xadrez em Patos.
O Clube de xadrez foi fundado quando e há estatuto, como é a sua regulamentação?
O Clube foi fundado, mas ainda está em fase de organização. O próprio Marcos conseguiu uma norma de estatuto através do Clube de Xadrez de B.H. Partindo dessa norma nós fizemos o estatuto para o Clube de Patos. Houve no dia 26 de outubro do ano passado uma reunião em Assembléia Geral, fundando o Clube. Um mês depois, fizemos outra para a aprovação do estatuto, mas, como não temos ninguém entendido em estatuto, o Prof. Valdir, que é uma pessoa muito capacitada, encontrou diversas falhas nele e se dispôs a consertá-lo. Quando veio o torneio em si, tivemos que deixá-lo, e agora estamos dando o devido andamento ao estatuto que deverá ser aprovado em Assembléia Geral.
Como se processou o torneio?
Participaram 30 enxadristas, foi disputado pelo sistema suíço que é um sistema mais curto. Agora, explicar como é o sistema, seria desinteressante, e por ser uma entrevista tomaria muito tempo. Nosso objetivo é evidentemente divulgar o xadrez e a explicação desse sistema interessa somente aos que jogam xadrez.
Qual foi o objetivo desse Torneio?
O objetivo principal é a própria difusão do xadrez em si. Sabemos que o esporte é cultura e a nossa preocupação é ajudar no progresso de nossa cultura e evidentemente através do xadrez que é uma arte, iniciaria automaticamente uma cultura por excelência.
Quais as propostas do Clube de Xadrez para o ano de 1981?
Nós ainda não elaboramos um calendário definitivo, mas já estamos realizando aqui em Patos, 2 torneios a mais. Esse agora foi o torneio do Patos Social Clube, no período de férias, meio do ano realizamos o primeiro no Caiçaras, e pretendemos continuar com essa programação. Esses torneios tiveram como patrono o Dr. Paulo Borges que foi um homem sempre interessado e ligado a tudo que diz respeito ao desenvolvimento seja da arte, da cultura de Patos.
A programação do torneio, oficialmente, temos que realizar um torneio interno do Clube de Xadrez, isso para mantermos em dia a própria equipe representativa do Clube, pelo menos uma vez ao ano e seria no caso um torneio fechado.
Agora o Clube está dando seus passos iniciais, e é também pensamento do Clube angariar novos participantes, novos adeptos do xadrez, ensinar o xadrez em si e fazer também um torneio para estes principiantes, quer dizer, teremos que fazer uma classificação dentro do próprio Clube de acordo com a experiência, a prática e a própria capacidade dos jogadores ou dos participantes. Então teremos que fazer pelo menos 2 torneios, para os principiantes e aqueles outros para confirmar a equipe, tudo isso em âmbito fechado, além dos outros dois torneios: o do final do ano e o do meio do ano. Isso seria o programa oficial do Clube. Além disso de acordo com as possibilidades, poderá fazer uma disputa em uma ocasião qualquer. (Festa do Milho, por exemplo)
A classe estudantil patense não é muito integrada a essa cultura que é o xadrez. Existe alguma viabilidade de fazer uma maior integração entre os estudantes e o Clube de Xadrez?
Viabilidade, há. O Clube de Xadrez faz um convite de uma maneira geral, notadamente ao estudante, pois é a classe que teria mais condições de aderir e praticar o xadrez. O Clube está na medida do possível sempre pronto, de braços abertos a ajudar.
E como se integrar ao Clube?
Apenas se associar, preencher uma proposta. De maneira que é só procurar qualquer pessoa que já seja filiada ao Clube.
Em que consiste o Jogo de Xadrez?
O jogo é uma arte, uma ciência, mas para fazermos uma comparação esclarecendo o jogo, é como se fosse uma batalha, quando que a figura central de cada lado é o rei. E essa luta consistiria em cada lado preservar o seu rei, do ataque do adversário. E aquele que conseguisse vencer, derrubar o rei sem que este de maneira alguma possa se defender, ganharia a partida.
Como se desenvolve um jogo de Xadrez?
O jogo pode ser dividido em três partes. Existem as regras, as peças (que não vejo necessidade de entrar nesses detalhes). De uma visão mais ampla, como já dissemos, podemos dividi-lo em três fases: a primeira é a fase da abertura do jogo, as peças estão no seu campo, se resguardando para irem ao campo de batalha. A 2.ª fase é a fase de você minando com o jogador, procurando não só ir demonstrando o adversário ou então até posições estratégicas que dariam condições para você terminar a luta, que seria a própria 3.ª fase, ou seja, o final da partida.
Como ficou a classificação geral do Torneio?
Foram 30 participantes:
1.º lugar − José Eustáquio Marques
2.º lugar − Otacílio Dimas Ferreira
3.º lugar − João Pessoa de Lima
4.º lugar − Hélio Rabelo de Souza Júnior
5.º lugar − Luís Antônio Ferreira
6.º lugar − Juarez Gomes Soares
7.º lugar − Evaldo Salvador de Lima
8.º lugar − Antônio Roberto da Silva Barão
9.º lugar − Marcos José de Queiroz Garcia
10.º lugar − Jurandi Aguiar
O nível do xadrez em Patos hoje dá condição de uma participação interestadual?
Nós tivemos oportunidade de conceder ainda há pouco, uma entrevista à Rádio Princesa, e todas as vezes em que temos ocasião de dizer isto, nós já falamos até com uma certa vaidade. Nós fazermos uma comparação a nível interestadual seria até temeroso pois, não temos condições de fazer nem mesmo no nosso estado, imagine nos outros.
No Brasil, o xadrez, não é muito difundido, isso em termos de Brasil, agora onde ele é muito praticado não resta dúvida, é São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília (apesar de pouca idade). Em Brasília o Clube de Xadrez é muito bom. O atual campeão de xadrez no Brasil é do Paraná, aprendeu xadrez lá… O que nos leva a crer que também no Paraná há um bom nível, destacando-se assim no xadrez brasileiro. No Rio, também é bom.
Agora MG não é, principalmente em relação a outros estados. Estamos em um nível bastante inferior. Basta dizer que o campeão mineiro que disputou o último campeonato brasileiro ficou em quinquagésimo sexto lugar, não foi das melhores colocações.
Nós não temos experiência de xadrez em outros estados e nem mesmo em MG, mas conforme eu tive oportunidade de ver no Clube de Xadrez de BH, e pela nossa participação no Torneio de Araguari, Patos pode se defrontar bastante no xadrez em MG.
Para uma pessoa manter um bom nível no xadrez é necessário algumas horas de estudos. Qual seria o tempo necessário que uma pessoa deveria estudar para manter o seu nível?
Para isso há uma série de fatores que devem ser considerados. Se você considerar um estudante, qualquer que seja o curso que está fazendo, numa sala de 40 alunos pode ser que o primeiro da sala não seja aquele que mais estuda. No xadrez também, além do estudo em si, é necessário que a pessoa tenha aquele dote natural. Mas há pessoas que têm um potencial muito grande para o xadrez, enquanto outros que não tenham o mesmo potencial já se dedicam mais, tendo aí melhores resultados. O xadrez para se jogar bem, é um jogo difícil, é uma ciência e por ser uma ciência, exige um maior esforço, um aprimoramento constante. O Fischer costuma dizer − isso seria em termos profissionais, pois os profissionais dedicam-se e vivem para o xadrez e evidentemente o país ajuda e apoia, o que já não acontece no Brasil. Voltando ao Fischer, ele estudava oito horas por dia, e lendo citações dele, quando os contendores dele às vezes negligenciavam no estudo; que seria principalmente a parte teórica, que é a cobertura, etc. ele diz que a pessoa esqueceu o dever de casa.
E há também outros jogadores que estudam, levam a coisa tão a sério, que já li a respeito do atual desafiante do campeão mundial que é o KARPOV e o desafiante o Viktor Korchnoi, já com seus 52 anos, enquanto o campeão está com 28 anos. Viktor Korchnoi reclama de suas condições físicas perante o outro, inclusive está praticando ioga. Não existe nada que cansa mais que o esforço mental, e o xadrez exige muito isto.
De uns tempos para cá o Mequinho, no Brasil está bem decaído, ele está superado?
Não posso dizer que está superado, inclusive o Mequinho é o único e primeiro grande mestre internacional no Brasil. Existem diversos mestres nacionais, inclusive o atual campeão é um jogador que promete muito, tem crescido, vem tendo uma carreira brilhante. Participou recentemente da Olimpíada na Ilha de Malta. A equipe campeã foi a Rússia, o atual campeão mundial e o atual campeão brasileiro fizeram o mesmo número de pontos, mas no conjunto a equipe russa se saiu melhor. Nossa equipe não se saiu mal pois, ficou no trigésimo quarto lugar entre 85 países, onde o xadrez é intensamente divulgado, o que não acontece no Brasil.
O poderio mundial do xadrez continua nas mãos da Rússia?
Sim, a hegemonia do xadrez está com a Rússia. Agora o Fischer foi o que quebrou essa hegemonia e no entanto, foi caçado. Ele não participa mais de torneios oficiais e ninguém sabe ao certo a explicação. Dizem que ele é muito mercenário e gosta muito de dinheiro e exigiu uma quantia “x” para colocar seu título de campeão mundial em jogo, e como não aceitaram suas exigências, ele abandonou o xadrez. A FIDE caçou o seu título. Agora em relação ao Mequinho, creio que não foi superado. No momento ele está sem condição de saúde para jogar. Acredito que se ele se recuperar da doença, poderá não ser superado. Durante o reinado de FISCHER, o atual campeão mundial, KARPOV, e Mequinho, foram apontados como os que reuniam condições para serem os prováveis campeões do mundo.
Existe algum apoio da comunidade nesses torneios, ou mesmo no Clube de xadrez daqui de patos?
Existe. Eu sempre costumo dizer que o povo daqui é muito bom, não que não encontremos dificuldades. Nós temos apoio, apesar do xadrez ser pouco difundido, temos uma minoria que participa. Fizemos no ano passado o torneio no Social e este ano novamente, de maneira que temos encontrado apoio da própria diretoria do Clube.
Marcos, como presidente do Clube de Xadrez, qual a sua meta de trabalho para o ano de 1981?
Inicialmente era bom que lembrasse que não seria a minha meta de trabalho isoladamente, seria a meta no caso, da equipe, sem contar com o apoio desse pessoal não estaria nada definido, agora é importante que haja objetivos. O principal seria a oficialização do Clube que já está fundado, digamos que já passamos sua fase preliminar. Fizemos a Assembléia Geral e o estatuto está em fase final de elaboração e vamos saber da Federação Mineira o que mais se exige para podermos oficializar, pois, há uma grande falta de organização no Xadrez em MG.
Nosso objetivo visa tudo isso, oficializarmos para podermos participar do campeonato mineiro e assim poder também contar o com o apoio da Federação, e contar com conferências, que só oficialmente se consegue. Um outro objetivo da diretoria para este ano seria uma promoção do torneio regional (Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba) e para isso precisamos não só do apoio da imprensa, mas da comunidade, Prefeitura, da Liga Patense de Esportes, talvez tenha alguma verba para isso, conforme o próprio presidente já nos falou.
Enfim, seria a maneira de provar o nosso nível conseguindo este objetivo.
José Eustáquio Marques, você alcançou o ponto máximo de um campeonato, que é o 1.º lugar, o que você acha que falta em você, para ser um mestre?
Hoje em dia ser mestre não é muito fácil. É exigir muito, mas é necessário estar bastante preparado, não só psicologicamente, como fisicamente.
Qual a sua proposta dentro do xadrez?
Pensar em continuar eu penso, mas o xadrez é para mim um esporte, creio seria pedir demais, pensar em ser um profissional.
* Fonte: Texto publicado na coluna Sem Fronteiras com o título “Clube de Xadrez Patos de Minas” na edição n.º 21 de 31 de março de 1981 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.
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