GATO PRETO É AGOURENTO?

Postado por e arquivado em ANIMAIS DE COMPANHIA, COMPORTAMENTO, GATOS.

Você é daquelas pessoas supersticiosas? Se a sua resposta é não, acredite, você é uma das poucas. O brasileiro adora uma superstição, e é capaz de criar uma mais maluca do que a outra. Basta você perguntar para alguém, e verá que ao menos uma superstição ela terá. Falando em superstições, existe uma que eu acho um absurdo, que vem desde a idade média e que, por incrível que pareça, dura até os dias de hoje, que é a de que o gato preto dá azar. Você, com certeza, já ouviu falar nisso. Dizem que cruzar com um gato preto em uma sexta feira 13, ou ter um gato preto em casa não é nada auspicioso.

Você pode até não acreditar, mas em pleno século XXI ainda existe discriminação e violência contra esses inocentes bichinhos. E para comprovar o que estou falando basta ir a uma ONG de proteção aos animais e verá que os gatos pretos são sempre os mais abandonados e os últimos a serem adotados. Mas esse quadro se inverte em dias como sexta-feira 13, dia das bruxas e na Semana Santa, onde aumenta a adoção desses animais, por pessoas que não estão interessadas em lhes dar amor e carinho. Estes animais, muitas vezes, são vítimas de atos e rituais cruéis. Tanto que o Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo já chegou até mesmo a proibir a adoção de gatos pretos nestas épocas, tentando evitar que estes animais sofram algum tipo de crueldade.

Mas diante desses fatos, de onde será que vem essa trágica história contra os gatos pretos? Os gatos há muitos anos atrás tinham lugar de prestígio na sociedade. Tudo começou com os ancestrais dos gatos domésticos de hoje, o gato selvagem africano, que encontrou no homem um meio fácil de obter comida e abrigo e em troca, livrava a tribo de algumas das pragas que destruíam suas plantações. Essa relação fez dos gatos um dos animais preferidos pelo homem. Esta relação foi crescendo até a época da antiga civilização egípcia, onde os gatos ganharam o seu primeiro grande papel de destaque. Os egípcios acreditavam em vários deuses e entre eles a deusa Bastet. Representada pelo corpo de uma mulher e a cabeça de gata, era a deusa da fertilidade e protetora das mulheres. Acreditava-se que Bastet conduzia as almas dos mortos, e com isso os gatos foram considerados guardiões do outro mundo. A sua importância passou a ser tanta, que foram encontrados mais de 300 mil felinos mumificados, e olha que a mumificação na época era um procedimento caro e que indicava status.

E assim foi por muitos anos, o gato associado a Deuses. No século XI, em meio a Idade Média, por causa destas associações do gato com as outras religiões, e devido a existência de muitos cultos pagãos ao gato, a igreja católica decidiu que precisava mudar a imagem da sociedade perante o animal e suas religiões relacionadas. Foi então que o gato perdeu seu lugar de animal cultuado, e passou a ser divulgado como sendo um ser demoníaco. O fato de o animal ter hábitos noturnos, olhos que ficam em formato de fenda e que “reluzem” no escuro, contribuíram para que as pessoas mudassem de ideia sobre eles. E não foi difícil logo associarem que os gatos pretos, por terem cor das trevas e do mal, deveriam ser ainda piores.

A partir daí teve início inúmeras histórias envolvendo os gatos pretos. Algumas um tanto controversas. Mas a que deu fama mesmo a eles foi a de que as bruxas se transformavam em gatos pretos. Por isso que se diz que cruzar o caminho de um gato preto é sinal de má sorte, afinal, ninguém queria cruzar o caminho de uma bruxa. Para se ter uma ideia de como este mito foi tão forte, o Papa Inocêncio VIII (século XV) colocou os pobres gatinhos como “seres hereges” e então passaram a ser perseguidos pela inquisição. Vários gatinhos foram queimados na fogueira nesta época.

Essa imagem ruim só começou a ser mudada quando a Peste Negra assolou a Europa. No início os gatos foram considerados culpados, mas depois com a infestação dos ratos é que foi voltando a importância dos gatos. Apenas no século XVIII foram abolidas as leis sobre a feitiçaria e a perseguição aos animaizinhos. Pelo menos neste ponto podemos nos alegrar com a sociedade atual. Cada vez mais pessoas entendem que esta história do gato preto é apenas uma superstição antiga vinda de uma sociedade que, sem conhecimento da ciência, procurava causas místicas para explicar tudo que acontecia ao seu redor. Mas, infelizmente, ainda assim quem sofre com a irracionalidade de alguns seres humano são os inofensivos gatos pretos. Portanto, o que posso afirmar é que os gatos pretos não são agourentos e não trazem azar! Agourento, na verdade, é todo o preconceito que possa existir em nós. Eles são é sinal de sorte. Principalmente, para quem tem o privilégio de conviver com um deles todos os dias. Eles são muito amáveis, carinhosos, parceiros, independentes e super brincalhões, assim como qualquer outro gatinho.

Atualmente, a ciência também considera que o gato preto pode ser um representante sim, de boa sorte! Uma pesquisa do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos verifica a possibilidade de que o gene que dá a coloração preta ao animal também seja responsável por torná-lo imune ao vírus do HIV felino! Sendo assim eles estudam para saber se quem sabe os gatos pretos não nos dão um caminho para uma vacina para o HIV? Seria muito legal para provar que os bichinhos são só amor!

Qualquer pessoa minimamente esclarecida nos dias de hoje não tolera qualquer tipo de preconceito, não é mesmo? Pois bem, é nesta linha que desejamos que você pense sobre a vida dos gatinhos pretos. Não se deixe levar pelas crendices populares, mas de qualquer forma, se você for adotar um gato preto o que você deve ter em mente é que assim como você quer um lar harmonioso e feliz, o felino também quer.

* Fonte: Texto de Glayce Cassaro Pereira publicado com o título “É Verdade que Gato Preto dá Azar?” em Diariodovale.com.br (22 de outubro de 2016).

* Foto: Gatosmania.com.

Compartilhe