CONSTRUTORES DE OUTRORA

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Patos de Minas não ostenta obras monumentais de arquitetura. Mesmo a Catedral de Santo Antônio, projeto de Emanuel Gianni e João Boltshauser, é obra de estilo indefinido. Todavia, as harmonias de suas linhas e a funcionalidade do todo são notáveis. Os primeiros tempos da povoação, iniciada por quilombolas foragidos dos senhores de Paracatu e Goiás, evidentemente foram marcados pelas choças cobertas de sapé, com paredes de pau-a-pique revestidas de barro.

Ao que sabemos, a Câmara de Araxá, município ao qual Santo Antônio do Paranaíba esteve submisso, até que passou a integrar o de Patrocínio, não teve posturas que objetivassem as construções. Já a edilidade patrocinense as teve, e tinham maior observância no âmbito do distrito da vila. Os distritos, e no caso Santo Antônio dos Patos, buscavam obedecer as disposições da lei, caso contrário teríamos constatado a balbúrdia natural dos lugares em que predominam as construções a esmo.

Instalado o município de Santo Antônio dos Patos, suas posturas determinavam que, nas concessões de terrenos ou lugares para construções de casas, a Câmara deveria regular-se de sorte que a povoação começasse do centro para os lados, evitando que houvesse largos espaços entre um e outro morador da mesma rua. Autoridade importante, o alinhador, nomeado pela Câmara, tinha por obrigação perfilar e alinhar as casas em construção, de acordo com o plano da povoação. Havia critérios para construções no centro, conforme o art. 32 das referidas posturas: Ficam proibidas as casas meia-água nas frentes das ruas; excetuam-se nas ruas da várzea e roda da lagoa. A imensa riqueza de madeiras próprias para construções e a capacidade dos carpinteiros do passado, deram aos patenses construções admiráveis, das quais poucas podem, ainda, ser vistas.

O empreiteiro de obras, Eduardo Ferreira de Noronha, ao apresentar à Câmara a conta corrente das despesas com os reparos dos muros da escola pública e com o rego d’água da vila, em 1885, enumera dias de serviços dos pedreiros Valeriano, José Christiano e Lelis Ferreira. Embora não saibamos quando começou a aplicação de tijolo de argila queimada nas construções, em 1855 temos citação da Olaria do Simão. Depois que se estabeleceu o seu uso, assinalamos as olarias de Manoel Teixeira Pinto, Toniquinho da Zenóbia, João Luiz Redondo, entre outros. Antes, até por volta de 1910, predominava o adobe ou pau-a-pique, material que ainda se verifica em algumas construções antigas, principalmente nos distritos.

No mapa dos alunos que frequentavam a escola noturna do professor Valeriano Rodrigues Souto, do quarto trimestre de 1884, vemos os nomes dos carpinteiros Manoel Vicente Ferreira (o aluno mais velho, com 40 anos de idade), Moysés da Silva, Frederico Amâncio da Silva, Henrique Braga, Antônio José da Fonseca, Belmiro Amâncio da Silva; pedreiros José Christino Maia e Firmino José Maria. A regularização do buracão da Rua Tiradentes – receptáculo de grande parte das águas pluviais e das sobras do rego que abastecia a vila, foi realizada por Júlio Russo Italiano, analfabeto, como vemos nas assinaturas de seus recibos, feitas à rogo.

No século 20, a renovação arquitetônica de Patos de Minas começou com João Ferreira da Silva que, em 1917, lançava um anúncio curioso em várias edições do jornal Cidade de Patos¹. As construções da antiga Cadeia, da caixa d’água da Mata do Juca Santana, do Grupo Escolar de Patos, da antiga Prefeitura (Paço Municipal) e do Palacete de Amadeus Dias Maciel são elementos básicos desta renovação, além de Augusto da Silva Barão com a casa do Dr. Itagiba Augusto da Silva.

Outros trabalhos, que foram verdadeiras aulas para nossos hábeis construtores: a caixa d’água do Cruzeiro, construída pelo engenheiro Manuel Vivacqua; as construções do Grupo Escolar Marcolino de Barros, Escola Normal e Fórum, todas de Luiz Zeichmeister; o Edifício Ponto Chic e a Casa do Hugo, de Antônio Marques Peres, mais conhecido como Antônio Espanhol; a de João Borges de Andrade, por Faustino Minelli.

Nestas rememorações, não podemos deixar de citar, entre outros, carpinteiros, construtores e pintores: Guilherme Vilella, Tobias Cândido, Bilé Corrêa da Costa, João Cirino Neto, João Corrêa da Costa, Sebastião Alves de Oliveira, José das Chagas, Roque Teixeira Pinto, Manoel Ramos, Vital Azevedo, Adolpho de Souza, João Garcia Roza (cerâmica), José de Melo Sumbém, José Bithencourt, Justino Moreira, João Bagre, Vicente de Alexandrina, Olímpio Izídio e José Albino da Silva.

Justiça se faça a duas figuras: José de Sant’Ana, o Capitão Juca Sant’Ana, e Mário Garcia Roza. O primeiro, dono de grande parte dos terrenos que circundavam a cidade antiga, facultou a elaboração da primeira planta oficial (Lei n.º 184, de 15 de maio de 1916) quando vendeu à Câmara Municipal uma vasta área, que foi loteada e vendida a 9 mil réis o metro de frente. O outro, a partir de 1947, permitiu o alargamento da cidade, com os loteamentos Vila Garcia (1.500 lotes), vendidos a Cr$ 20,00 por mês; Bairro Paranaíba (1.200 lotes); Bairro Nossa Senhora das Graças (400 lotes) cujas ruas trazem os nomes de antigos moradores da Beira da Lagoa; São José da Lagoinha (300 lotes) e Boa Vista (1.000 lotes).

* 1: Leia “Sonho da Casa Própria – 1917”.

* Fonte: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.

* Foto: Aspacer.com.br, meramente ilustrativa.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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