Nos tempos em que o saudoso dentista Sebastião Borges de Amorim¹ inaugurou seu consultório em Patos de Minas, nos idos de 1946, e que seu colega Antônio Ferreira Maciel já trabalhava com radiologia², era rotina para estes profissionais a extração de dentes e a confecção de dentaduras. Assim como era tradicional o cliente optar ou não pela anestesia, esta que era muito cara naqueles tempos. Tanto que muitos sofriam dores horrendas porque não tinham condições de pagar o anestésico ou então era mesmo questão de pãoduragem.
Como o país do pau brasil é a terra dos espertos, daqueles que sempre estão criando maneiras inteligentes de burlar leis e enganar o próximo, e como Patos de Minas faz parte do contexto, eis que um dia um cliente entra num dos consultórios da cidade suplicando a urgência em extrair quatro dentes, com a devida anestesia, e importada, se houvesse. Havia, e ela foi aplicada. Tão logo o dentista encostou o boticão no 1.º dente o proprietário urrou de dor. É, mesmo importada e o dobro do preço, a anestesia não fez efeito, assim pensou o dentista. Tentou um minuto depois e nada de efeito anestésico. Até que o doutor pediu para o fulano voltar no outro dia para nova tentativa. Quem sabe, o medicamento estava com problema.
Passada uma semana o homem não havia voltado. Era de manhãzinha, três dentistas conversavam na esquina da Major Gote com Olegário Maciel. De repente, um sujeito passou apressado por eles em direção à Praça dos Boiadeiros. Um doutor reconheceu o ligeirinho como aquele em que a anestesia não funcionou e comentou o assunto. Um outro estranhou o fato dizendo que poderia haver um engano, pois aquela pessoa esteve em seu consultório para a extração de um molar e que, duro na queda, não quis anestesia. Aí o terceiro contou fato parecido e… hum… as mentes se conectaram para a decifração do mistério, aliás, do golpe.
O espertinho recebia o anestésico e fingia dor, dando a entender que a anestesia não funcionou. Aí era só caminhar um pouquinho até outro consultório e solicitar a extração do dente “sem anestesia”, já que o dente estava devidamente anestesiado. O larápio conseguiu extrair os quatro dentes sem pagar o oneroso anestésico, mas o golpe foi descoberto. E ele, o danado agora banguela, sumiu. E assim a vida seguiu na Patos de Minas do país do pau brasil com outros golpes, como o do busto do Olegário Maciel³, da falsificação de réis4 e tantos outros.
* 1: Leia “Sebastião Borges de Amorim”.
* 2: Leia “Dr. Antônio Ferreira Maciel – 1945”.
* 3: Leia “São Olegário”.
* 4: Leia “O Fabricante”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fonte: Dr. Sebastião Borges de Amorim.
* Foto: Luso-poemas.net.