BELCHIOR E GASPAR – ARTE EM FAMÍLIA

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BELCHIORQuem passava ou passeava pelos jardins da Avenida Getúlio Vargas, na segunda quinzena de outubro de 1985, podia ver e apreciar os quadros expostos por dois artistas patenses que têm seus nomes conhecidos nacional e internacionalmente.

Belchior Cunha da Silva, 42 anos e Gaspar Cunha da Silva, 34 anos, naturais de Santana de Patos, filhos de Sebastião Cunha da Silva e Luzia Braga de São José, são dois artistas plásticos que se definem, segundo suas palavras, “2 sem estilo em sem escola”.

Indagados sobre a necessidade das exposições em praça pública, Belchior e Gaspar se completam em suas afirmações, dizendo ser estas exposições uma forma de se popularizar a pintura, mas que infelizmente nota-se uma queda na cotação de seus quadros.

Segundo eles, a pintura, ou melhor, a arte de um modo geral é altamente elitizada, obedecendo as leis do mercado, sendo portanto, necessários cuidados para que seus nomes não sofram declínio no meio artístico-cultural.

Belchior se considera o pioneiro em exposições em Brasília, precisamente no início da década de setenta, porque ali não residia nenhum pintor profissional. Lançou então a arte em Brasília, indo de três a quatro vezes por ano à Capital federal.

Belchior tem em seu passado profundas recordações dos tempos amargos de expressão política por que passou vários artistas e intelectuais, preocupados em levar ao povo a verdade de sua arte. Dos seus vinte e cinco anos de arte nos afirma que treze ele passou “pastando”.
Apesar de todas as dificuldades, a sua disposição em continuar lutando pela verdadeira manifestação artística, permanece inabalável.

Segundo os dois pintores, a nossa realidade educacional não dá condições ao público de desenvolver seu espírito crítico, para assim valorizar o trabalho artístico-cultural em nosso próprio país.

Sobre a sua estada nos EUA, várias comparações foram feitas em relação ao estágio cultural em que se encontra o público daquele país, obviamente de capacidade crítica mais elevada do que o brasileiro, devido à características particulares na formação do povo americano.

Entretanto, a classe artística brasileira está muito bem representada, com trabalhos de altíssima qualidade, em exposições e galerias nacionais e estrangeiras.

Belchior repete sempre que é imprescindível ao iniciante, dedicação integral ao seu trabalho, aliado a um profundo respeito ao seu público, produzindo não apenas quantidade, mas preocupando com a qualidade de seus quadros.

GASPAR 1Gaspar transmite primeiramente conselhos técnicos no sentido de que o iniciante não despreze bons cursos e que se preocupe com o uso material adequado para a expressão do seu pensamento.

Depois tece vários comentários a respeito da viabilidade econômica em adquirir material de primeira qualidade, ressaltando a importância da personalidade do indivíduo para superar todas as dificuldades advindas da sua possível situação econômico-financeira.

Aconselha ainda a todo artista que tenha cuidados relativos à administração de seu trabalho. Segundo ele, “o artista deve trabalhar como se fosse uma empresa, apesar de que, na maioria das vezes, o artista trabalha sozinho, sendo o único dono dessa empresa”.

Belchior e Gaspar acham que o artista é explorado por máquinas empresariais, que corroem o trabalho artístico, fazendo com que o único fator de valorização dos quadros seja o nome do artista e não a qualidade apresentada. Não existe portanto nenhum critério crítico para se definir uma obra de arte, existem sim, concepções politiqueiras e anti-democráticas.

Segundo eles, as instituições e entidades, principalmente as controladas pelo Estado, estão absurdamente à revelia dos verdadeiros artistas, ou administradas em sua maioria por pessoas que em nada se relacionam ao meio artístico.

Criticam ainda a qualidade do material encontrado no comércio, dizendo ser de péssima qualidade, as tintas, telas, etc…

Citando Pablo Picasso, colocam-se como pintores “sem estilo e até mesmo sem escola”.

Suas telas refletem a sua criatividade, transmitem toda a sua sensibilidade, algumas vezes mostrando a realidade como ela é, outras vezes, apresentando sua própria linguagem interior com suas angústias, depressões ou mesmo suas alegrias.

Ainda da influência norte-americana nas diversas manifestações artísticas, especialmente na pintura, Gaspar fala sobre o Foto-Realismo, movimento surgido em 1968, lançado pela Universidade da Califórnia, que “a grosso modo seria a pintura de uma fotografia superando a expressão do real da fotografia”, sendo esta a última tendência do Modernismo.

Belchior irá mostrar no ano que vem, na Flórida, doze quadros foto-realistas, com tema rural, envolvendo Patos de Minas e tôda a região.

Belchior Cunha, mais velho, se mostra mais agitado, às vezes um pouco radical em suas conclusões, enquanto Gaspar é uma pessoa aparentemente mais calma e até mais cautelosa em suas afirmações. São no entanto, dois indivíduos que merecem todo o nosso respeito, pela sua sinceridade e mais ainda pela honestidade de seus propósitos.

* Fonte: Texto de Heitor Mendonça publicado na edição n.º 127 de 15 de novembro de 1985 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Fotos: Da página do Facebook de Gaspar Cunha.

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