PAULO ROBERTO CAIXETA ATÉ 1996

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DSC01938Há pouco mais de 38 anos, em 27 de junho de 1958, Maria Caixeta Guimarães dava à luz mais um de seus onze filhos. Ela e o marido, Aderbal Caixeta de Melo, formavam um desses incontáveis e anônimos que enriquecem e fazem viver o chão brasileiro com sua incansável e interminável labuta de sol a sol, e foi dessa forma que na comunidade de Córrego Rico, no município de Patos de Minas, a criança cresceu e tornou-se capacitada a enfrentar com dignidade a luta pela sobrevivência.

É bem verdade que o menino batizado com o nome de Paulo Roberto Caixeta, viveu até os oito anos a liberdade dos que são amigos íntimos da natureza. Brincava, corria, pulava, ria, chorava e ajudava o pai na árdua tarefa roceira, mas sua família mudou-se para a cidade em 1966, e ele então foi matriculado na Escola Estadual Santa Terezinha, onde ingressou no Curso Primário, primeiro passo da longa caminhada de aprendizado que conduz as pessoas para o conhecimento e o saber. “Foi nos tempos de escola que despertou em mim o gosto pelos palcos e a vontade de escrever. Em virtude da minha facilidade para decorar textos, sempre fiz parte das apresentações em teatro. Da. Sônia Vida, da. Maria Olímpia Avelar, da. Alcídia Borges, da. Vilma Magalhães, da. Estela Caixeta, foram minhas mestras queridas”.

Aconteceu, porém, uma nova mudança no rumo da família de Aderbal Caixeta de Melo. Ele retornou à zona rural e na Fazenda Fundão foi reiniciada a labuta de plantar arroz, milho, feijão e mandioca, trabalho que era feito em parceria com os vizinhos no sistema conhecido como “meia”. Para amenizar a rotina diária da cansativa vida campestre, os moradores da região realizavam em todos os sábados os chamados “pagodes de traição”. Durante essas reuniões alegres e confraternizadoras era realizado um mutirão de capina e limpeza de pasto e aos domingos havia a reza do terço, seguida depois pelo leilão. Depois, no melhor da festa, as danças e o canto do desafio. “Já fui rezador de terço, pregoeiro e cantador”.

A facilidade para encontrar a rima certa veio desta convivência. Contudo, o dom pode ser explicado de outra forma. “Herdei de minha mãe o gosto pela poesia. Ela gostava de cantar versos, enquanto a gente escaroçava o algodão para cardar e fiar”. Não conseguindo conter a ânsia de mostrar o estilo de vida do “povo da roça”, Paulo Roberto Caixeta começou a encaminhar alguns trabalhos seus para a rádio local, na tentativa de divulgá-los. Em 1982 ele casou-se com Antônia, a “única paixão de sua vida”, e a nova família foi aumentando com a chegada dos filhos Denise, Luís, Paulo e Cristine, dois casais de herdeiros que satisfizeram e alegraram os corações de marido e mulher.

Seu primeiro poema foi o “ABC do Caipira”: No meu rancho de sapê, amarrado com cipó de embira, aonde me acostumei de nunca contá mentira, arresorvi decifrá o alfabeto do caipira / O “A” é o amanhecê logo após que o galo canta, é quando o caboclo levanta e vai pra roça mexê. / O “B” é a bênção de Deus que é lembrança na Terra, prá quem nunca faz greve e nem sabe o que é guerra. / O “C” é a chuva boa que irriga a esperança, fazendo brotar da terra muito pão em abundância. E a poesia segue adiante até a letra Z.

Com o correr do tempo e em virtude de sua presença constante nas comunidades rurais, Paulo se tornou conhecido de todos pela facilidade com que encontrava e reunia com harmonia as palavras que brotavam do fundo se sua alma cabocla. “Participar da ‘Noite de Poesia’, no Colégio Tiradentes, foi uma glória para mim. Sentar ao lado do Leão de Formosa, Wilson Pereira, Rafael Gomes, foi motivo de muita honra. Fui muito incentivado por eles. Sou um misto de poeta, repentista, ator e humorista”. E é assim que prossegue a vida desse moço humilde, mas natural e espontâneo, dono de grande inteligência e muita criatividade. Participante assíduo de programas de auditório, festivais de viola, festas religiosas, atividades culturais, ele se apresenta também na tevê local, no programa “Contrastes”, da NTV, levando a todos a arte inata que extravasa de sua alma de poeta.

Paulo Caixeta já foi premiado algumas vezes. Na “Noite de Humor”, promoção da Prefeitura Municipal/Semec, conquistou o primeiro lugar na categoria “História de Pescador”, e segundo lugar na categoria “Contador de Piadas”. Presença ativa no Projeto Raízes, realização da Divisão de Cultura/ Semec em 1994/1995. Após a venda de seu pedaço de chão situado no Curraleiro, Paulo retornou a Patos de Minas, passando a trabalhar como funcionário da Construtora Araguaia-Minas. “Voltei a residir em Patos de Minas pois é aqui que quero criar meus filhos e prepará-los para um futuro melhor. Tenho cinquenta trabalhos escritos em um velho caderno. Sou um lavrador da terra e um grande sonhador”.

* Fonte: Texto de Marialda Coury publicado no n.º 14 do jornal O Tablóide de 16 de novembro de 1996, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.

* Foto: O poeta e sua filha Denise na Fazenda Fundão em 1986.

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