Quase todas as pessoas de Patos e municípios vizinhos conheceram esse admirável sacerdote carioca. Nas suas brilhantes e comoventes pregações, durante a Semana Santa, pela Rádio Clube, ou pelo púlpito, ou mesmo nas ruas, deslumbrava o coração de qualquer ouvinte, ainda que não fosse católico.
Como professor, estimulava positivamente todos os cérebros juvenis, obrigando-os a captar as matérias lecionadas com proveito e aprendizagem requeridos. Na direção do Lions Clube, por várias administrações, brilhou merecidamente até em países estrangeiros. Como escritor, pregador, educador, conselheiro, diretor de estabelecimento de ensino etc., foi magnífico, fantástico, contribuindo enormemente para a comunidade do Alto Paranaíba. Tudo verdade, tudo correto, toda gente reconhecendo seu valor, sua missão, seu sofrimento. Todavia, vou revelar aos menos avisados, ter sido um esforçado Pescador de Almas e de Peixes. Nossas relações pessoais não passavam de contatos esporádicos como colegas do Magistério.
Certo dia, Dercílio Amorim, o qual fora seu amigo incondicional, conhecendo a vida atribulada de Padre Almir, sua saúde débil, sua ansiedade inacabada por leituras variadas até alta madrugada, disse-me:
– Teacher, você podia levar Padre Almir nas suas pescadas aos sábados, ele é louco com pescarias, seria muito benéfico para sua saúde.
Incontinenti, integrei mais um pescador na minha turma. Recordo saudosamente neste momento, sua alegria esfuziante, rindo sempre das brincadeiras dos companheiros. Numa das últimas pescarias que fizemos no Ribeirão dos Vieiras, lua cheia, céu muito brilhante, estávamos sentados num barranco alto, numa curva, pés dependurados sobre as águas. Estando eu ao seu lado, observei uma cobra pouco mais de metro, saindo de uma moita e começando a subir na perna direita do nosso padre. Ele também vira a serpente, conservando-se totalmente imóvel. Recomendei-lhe baixinho, quase cochichando:
– Não se mexa, companheiro, reze, reze e com fé.
A serpente atravessou-lhe as duas coxas e se foi inocentemente. Quando respirávamos aliviado do susto, o sacerdote exclamou com voz alta:
– Rezei e rezei bonito para todos Santos, viram como valeu?
* Fonte: Texto de A. Ferreira Maciel publicado na coluna Pescaçando (Tião Abatiá) com o título “Padre Almir”, na edição de 31 de março de 1990 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de História do Unipam.
* Foto: Muraljoia.com.