TEXTO: JORNAL DE PATOS (1926)
Foi exonerado do cargo de escrivão da collectoria estadual desta Cidade o distincto cavalheiro Julio Arcieri.
Até este momento ignoramos o motivo que determinou esse acto do governo do Estado, mas podemos entretanto garantir que não passa de mais uma proeza a se registrar nos annaes carunchosos do situacionismo local. Politica de mandonismo e cabresto não podia se conformar com a attitude digna e elevada acima de qualquer partidarismo em que se vinha mantendo aquelle funcionario que pode sem nenhum favor servir de modelo a muitos funcionários do Estado e principalmente aos de Patos.
Julio Arcieri està satisfeito porque a sua exoneração, em vez de humilhal-o o eleva no conceito da população independente deste municipio, porque o nosso povo já sabe sobejamente que autoridade ou funccionario que age correctamente e com imparcialidade, torna-se victima da politiquice que infelicita este Municipio. A melhor prova da sua competencia e honestidade de funccionario exemplar é a sua exoneração nas cirsunstancias em que se deu. Foi exonerado porque não quis fazer politica dentro da Collectoria, como está fazendo o collector.
Os chefes dominantes pediram ao Governo do Estado a sua exoneração porque Julio Arcieri repeliu com altivez e dignidade o tradicional bornal, com que eles engodam os funccionarios relapsos e sem escrúpulos.
Quando foi da exoneração do Sr. Antonio Dias Maciel pelo processo que todo o mundo sabe, o illustre inspector das rendas estadoaes Coronel Francisco Franco de Almeida entregou ao sr. Julio Arcieri a collectoria de Patos autorizando-o a contractar auxiliares. Mas Julio Arcieri que tem uma capacidade de trabalho admiravel, methodico e escrupuloso dispensou qualquer ajudante; e, sozinho, trazia sempre em dia os negocios da collectoria, servindo com igualdade e delicadeza as partes sem distinção de côr politica ou condição de fortuna.
E’ um homem dessa tempera que os politiqueiros locaes pensaram em humilhar com seu pedido de exoneração mas que ao contrario do que esperavam Julio Arcieri foi exaltado porque mostrou aos seus concidadãos como deve proceder um homem sciente da sua dignidade.
Preferiu perdeu o seu cargo a submetter-se aos caprichos dos politicoides de aldeia.
Não pensem que foi uma sorpreza para nós e para Julio Arcieri a sua demissão.
Há mezes que os chefes dominantes o vinham ameaçando dizendo-lhe que só admittiam a imparcialidade do Juiz de Direito e que todas as demais autoridades e funccionarios devem ser prepostos do chefe politico¹…
Mas Julio Arcieri sempre de cabeça erguida convencido de que aos olhos dos homens sensatos a sua attitude era admirada, repellia com hombridade tão perversas insinuações, respondendo-lhes “que se não estavam satisfeitos mandassem-no embora; mas enquanto fosse o escrivão da collectoria de Patos, alli se não havia de fazer politica”, attendendo com presteza os situacionistas e entravando os negocios dos populares, como está fazendo agora o Dr. Anysio d’Assumpção.
Estamos informados de que o governo honrado e patriótico do Sr. Dr. Mello Vianna, cujos actos sempre nos mereceram todo acatamento, foi mal orientado pelo situacionismo local quanto ao modo de agir do Sr. Julio Arcieri, como escrivão da Collectoria estadual; por isso levamos ao mesmo Sr. Arcieri as nossas felicitações porque a sua exoneração nas condições em que se deu, sò lhe pode ser um titulo de gloria, uma prova de honradez e probidade, e porque estamos convencidos de que elle está satisfeito de não ter nunca acceitado a sella do mandonismo de Patos…
* 1: Era o chefe político, ou chefe do executivo, correspondente ao atual prefeito, o Dr. Adélio Dias Maciel.
* Fonte: Texto publicado com o título “Exonerado!…” na edição de 20 de junho de 1926 do jornal Cidade de Patos, do arquivo do Centro de Documentação e Memória do UNIPAM.
* Foto: Dois primeiros parágrafos do texto original.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.