SINA DE PERI E CECI, A

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Foi um casamento esperado há muito tempo. Afinal, sete anos de namoro e três de noivado. Mas foi tudo devidamente programado pelo Peri e pela Ceci. O que, se tem a ver com a ópera O Guarani do Carlos Gomes? Nada a ver, pura coincidência. Tanto o Peri quanto a Ceci − de famílias pouquinho mais que outras menos, que desde o início aprovaram e incentivaram o relacionamento −, depois da lua-de-mel se aconchegaram no montado apartamento financiado de dois quartos num dos prédios-caixote do Bairro Laranjeiras.

A nova vivência dos dois tomou o seu rumo, cada um no seu emprego, contando as horas para chegar ao final da tarde para estarem juntinhos novamente. Não demorou dois dias envolvidos naquele climão de recém-casados, quando perceberam que o vizinho de frente tinha um cachorro, e que esse cachorro não parava de latir, nem quando todos do edifício já estavam em suas devidas camas para dormir. Pouco depois, outro cachorro latífero se salientou num outro andar. Foram tantos os aborrecimentos e rusgas, que Peri e Ceci se mudaram do Bairro Laranjeiras.

Antes, enquanto enfrentavam os latidos, descobriram um edifício pertinho do Mercado Municipal que não aceitava nem papagaio mudo. E logo na mudança num sábado, dez horas da manhã, não mais que de repente, o prédio estremeceu com um som de rock pauleira que varou o dia todo, tanto quanto no domingo. Assim era todo final de semana: o adolescente filho do vizinho ouvia no máximo o rock pauleira. Quer dizer, não tinha nem papagaio mudo, mas tinha rock pauleira nas alturas. Foram tantos os aborrecimentos e rusgas, que Peri e Ceci se mudaram novamente, dessa vez, para uma casa ajeitadinha no Bairro Abner Afonso.

A mudança foi numa segunda-feira. E que semana sossegada, tirante as nojentas motos e carros com som. Veio o primeiro sábado, e nesse primeiro sábado pós-mudança, vivenciaram que a casa ao lado era uma república de estudantes universitários que promoviam zorras alucinantes no final de semana durante o dia e à noite, varando a madrugada. Que danura, ruminaram eles, como é difícil viver numa comunidade onde os outros não respeitam seus vizinhos.

Peri e Ceci suportaram dois meses, até que após exaustivas pesquisas, resolveram se mudar para um sítio lá para as bandas do Ribeirão da Mata. Ô sossego, ô decisão acertada que finalmente proporcionaram paz aos dois. Foram três meses de felicidade, de curtição com a família nos finais de semana, até que, numa noite agradável de um dia da semana, garoazinha amenizando o clima, os dois na varanda, ele saboreando uma cerveja gelada e um pito de palha e ela seu suco favorito de graviola, chega um carro, saem três indivíduos e anunciam o assalto.

Dizem as boas línguas, que Peri e Ceci sumiram daqui, e que a última notícia dos dois é que estavam morando no Parque Indígena do Xingu, onde foram devidamente aceitos por uma das etnias locais, e que estavam mais felizes do que nunca e jamais e em tempo algum, voltariam para a CIVILIZAÇÃO!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.

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