TEXTO: JORNAL FOLHA DE PATOS (1942)
Nenhuma criação artistica reflete melhor o sentimento de uma época do que os monumentos arquitetonicos. Revelam à posteridade o poder economico, a educação e o nivel intelectual das elites. Descobre aos pósteros as grandezas e miserias das massas, bem como desvendam o estado d’alma coletiva. Por eles conhecemos as maravilhas da civilização egipcia e a graça imortal do Partenon aclara, como o sol em madrugada, a luminosa historia da Grecia. E os povos que não souberem construí-los pereceram na voragem dos tempos.
Patos, no momento, edifica um grande templo. Este templo refletirá para o futuro os belos e nobres sonhos que alimentam a nossa alma. Testemunhará o potencial economico de nossa epoca, e sobretudo, reafirmará, pelos dias em fora, o ardor de nossa fé cristã.
Construindo-o ponhamos nele, com mimos e carinhos, a alma e a vontade nossas. Estampemos nele a nossa fisionomia moral.
Deus, é certo, não necessita palacios para que o seu nome seja evocado. O fundo do vale ou crista do monte, a caverna ou a planura batida de sol, a corola da flor ou a sombra da ramagem, tudo isso são templos. Mas são monumentos plantados pela Mão Divina, e Deus concedeu ao homem o direito de escolha entre a claridade e treva. O homem, erguendo edifícios para neles se reunir e glorificar a Deus, nada mais faz que proclamar o seu amor à Divindade, definindo-se pela luz e enfileirando-se nos esquadrões do bem.
A magnificência destas edificações traduzem, exteriorizam carinho do crente pelo Creador. Nada mais justo do que tomar das melhores alfaias, enfeitar-se das mais lindas arrecadas, revestir-se das mais opulentas galas, entrar pelo mais magestoso dos alcáceres e queimar as mais finas essencias para honrar a Deus. Em tributo de suprema gratidão, para Ele os mais belos hinos e os mais quentes hosanas.
Os templos despidos e sem mistica magestade das catedrais são casas de adorar a Deus, mas nunca serão reais expressões de uma viva fé coletiva. O egoismo do espirito individualista pode entrar em contato com Deus em qualquer canto, porque onde dois se reunirem em seu nome Ele aí estará. O que não poderá jamais alcançar é o êxtase inefavel que dá a sensação da presença da Divindade. E a noção de Divindade implica a de majestade que só as catedrais-monumentos ou a pompa das igrejas pode revelar.
Sentindo assim, a população de Patos, em sua quasi totalidade principiou a grande obra da casa de Deus.
O chefe espiritual desta população profetizou o seu termino no espaço de dezoito anos, e já vão oito de constante pelejar. O tempo previsto é reduzido e escasso. Se atentarmos, porem, as imensas dificuldades que vencer e compararmos este tempo com o que levaram outras cidades a erguer as suas abadias, teremos saldo favoravel. De onde, pois, mister, se faz maior esforço, maior perseverança, mais dinamismo, maior ardor e maior fé.
O nosso jornal põe-se a serviço desta obra, e conclama o povo a prestigiar a campanha do distinto Padre João Maria Valim. Em outro local, publicamos os dados referentes à situação financeira das obras, e para eles chamamos a atenção. Foram fornecidos pelo ínclito vigario da paroquia o Snr. Monsenhor Manoel Fleuri. Por eles verificar-se-á o quanto se tem feito e o quanto está para se fazer.
Que ao fim dos dezoito anos previstos Patos possa se orgulhar de ter dos maiores templos do Brasil, monumento que atestará as nossas convicções religiosas, a nossa pujança economica e até mesmo os nossos grandes ideais politicos normados nos ensinamentos cristãos, eternas lições de amor e concordia. Que a magestosa torre, ferindo os ceus, seja, em breve, o farol inspirador de nossas ações morais e que os sons dos sinos dela emetidos toquem os corações nesta hora de incertezas por que caminha a humanidade.
* Fonte: Texto publicado com o título “Testemunho de nossa fé” e subtítulo “A população de Patos, tendo à frente a figura de seu Revmo. Vigario Monsenhor Fleuri, está construindo, como testemunho de sua fé, nova Casa para Deus” na edição de 16 de agosto de 1942 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.
* Foto: Citada situação financeira das obras publicada na mesma edição do jornal.