Há pouco mais de vinte anos quem atravessasse a Avenida Fátima Porto e subisse o morro que leva aos atuais bairros Jardim Peluzzo e Jardim Andrades, se depararia com nada mais que uma enorme fazenda e grandes espaços loteados. O bairro, ainda considerado novo, cresceu muito nas últimas décadas, e nos últimos cinco anos ainda mais. Com a chegada de um hipermercado, uma UPA, uma creche e futuramente uma clínica de reabilitação, a vizinhança tem mudado. Mais empregos têm surgido e percebe-se um aumento na população da região. Que o resultado parece ser positivo é quase unânime, no entanto há quem discorde um pouco disso.
Tendo em vista a diferença de valor dos lotes de alguns anos para cá no bairro relativamente distante do centro, é visível a valorização da região. Lotes que há 15 anos valiam menos de 20 mil saltaram para 130 mil reais. Além da valorização muitos moradores apontam a segurança e a tranquilidade como fatores chaves para terem escolhidos a região para morar.
A técnica de raios-X, Geralda Clara de Moraes Filha Melo, de 58 anos, explicou que quando mudou quase não havia casas em sua rua, a maioria eram lotes vagos. A residente há 10 anos no local gosta da segurança do bairro, defende a implantação da UPA, mas ainda tem reclamações sobre o transporte coletivo que atende a vizinhança. “O transporte público deixa um pouco a desejar. Nos horários de pico os ônibus ficam muito lotados”. Aparentemente o serviço é ineficaz para a demanda nesses momentos do dia. A companhia Pássaro Branco, que não tem concorrência direta, fornece apenas uma linha para a região com intervalos mínimos de 30 minutos. Podendo a chegar a uma hora em determinados horários do dia e nos finais de semana.
Há ainda quem mesmo após ter deixado o bairro continue investindo nele. Leonilda Maria Mateus de Andrade, 49 anos, e Geraldo Mateus de Andrade, 55, moraram na região por oito anos, de 1999 a 2007, numa época que a movimentação era mínima e o comércio inexistente. “Não tinha mercado, açougue, padaria, serviços assim”, comenta o casal. O contador defende o bairro e diz ainda investir na região, com propostas de construção civil. Visto que para ele a valorização do bairro é inegável. A dona de casa também adora a região e diz só ter mudado devido a distância da escola que o filho teria que estudar, já que a mais próxima dali não oferecia ensino médio.
Diane Cherlle Silva, 28 anos e Marcos Elias Barros, 31, recém-casados, também são grandes fãs da vizinhança, especialmente da segurança do bairro, que abriga o 15º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais¹. No entanto para eles a implantação da UPA foi algo mais negativo, já que aumentou a circulação de veículos no local, tornando a movimentação mais complicada.
O casal de comerciantes não é o único a reclamar da Unidade de Pronto Atendimento. Áurea de Sousa Caixeta, 52 anos, mora no bairro há 18 anos, em frente ao posto de saúde e diz que com a chegada da unidade a tranquilidade marca da vizinhança acabou. “A UPA mudou tudo. É lixo na rua, pessoas batendo no portão toda hora, brigando, falta de educação”. E tudo isso para não fornecer um atendimento bom. A babá reclama da demora e da qualidade do serviço prestado. Além disso a abertura da creche foi outra coisa que não agradou em nada a residente do bairro, visto que tirou de si o meio de ganhar dinheiro. Por fim, ela afirmou tentar vender a casa, no entanto não consegue comprador interessado.
Já a diretora Leida Dias da Silva, 38, do Centro Municipal de Educação Infantil Vereador Heleno Luiz, “Vovô Leno” afirmou que a instituição trará muitos benefícios para as crianças, bem como para toda a população do bairro e adjacências. Visto que os pais procuram um lugar tranquilo, seguro e com educação de qualidade para os filhos. Leida disse que toda a correria para a abertura com as crianças no dia 06 de novembro valeu a pena, e que a creche proporcionará uma educação que englobará um processo educativo de qualidade além de respeitar a bagagem cultural que as crianças trazem de casa. O CMEI que já foi inaugurado no dia 20 de outubro fica ao lado da UPA, algo positivo para a diretora, já que em casos de emergências o socorro é rápido.
As transformações na região mexeram muito não só com o bairro, mas também com os moradores e possibilitaram novas abordagens ali. E isso afeta cada um de uma maneira diferente. Positivamente ou negativamente tais mudanças mudaram e muito a cara da região nos últimos anos.
* 1: Há um engano nesta afirmação. O 15.º Batalhão de Polícia Militar está localizado no bairro vizinho, Jardim Céu Azul, como está bem evidenciado na foto.
* Fonte: Texto de Fabiano da Silveira A. Ferreira (aluno de Jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro) publicado na edição de 25 de novembro de 2017 do jornal Folha Patense.
* Foto: Showmystreet, com edição de Eitel Teixeira Dannemann, publicada em 11/11/2014 com o título “Jardim Peluzzo”.