Cruzeiro é uma grande cruz de pedra ou madeira erguida ao ar livre ou no adro de igrejas, ou em encruzilhadas, praças e cemitérios. Estão colocados nas beiras dos caminhos, no alto dos montes, perto das povoações ou isolados. É pura representação da Cruz dos cristãos. É símbolo da crença de um povo. Para o autêntico religioso, o Cruzeiro é uma forma de oração, um convite à reflexão, como um catecismo de madeira ou de pedra que o introduz nos permanentes mistérios que movem filósofos, artistas e poetas: o enigma da origem da vida, a morte e o mundo. Cada Cruzeiro tem uma história muito particular que, em muitos casos, deveria ser incluída nos conjuntos paroquiais, tão pouco estudados: igreja, adro, cemitério, ossário e casa paroquial.
Silva Guerra, em 1826, doou o terreno para a construção de um templo em homenagem a Santo Antônio¹. Mas o tempo passou, o povoado cresceu, e o lugar continuava sem capela benta ou imagem colocada da invocação. De acordo com a Diocese de Patos de Minas, o Padre José de Brito² atendeu o lugar do ano de 1831 a 1839, quando foi, finalmente, construída a primeira capela, dedicada a Santo Antônio como bem queriam os doadores da terra. Capela esta simples e ao mesmo tempo funcional que atendia bem a pequena população.
Com o desenvolvimento daquele pequeno povoado e consequentemente aumento da população, tornou-se necessário melhorar as condições da antiga capela, o que ocorreu por volta de 1850. Agora, não mais capela, mas uma igreja, a 1.ª Matriz³. Durante muitos anos o povo católico de Santo Antônio da Beira do Paranaíba sentiu a falta de um símbolo à porta do templo. Até que, num pedestal rústico de pedra, mas base sólida, foi erguido por mãos laboriosas o 1.º Cruzeiro da povoação, uma Cruz pequena, tosca e simples, mas que representava a religiosidade do povoado. Atribui-se ao Padre Manoel de Brito Freire4 a confecção do Cruzeiro da Antiga Matriz.
Triste realidade da época, os governos davam pouca atenção aos templos das regiões de agricultura e pecuária. O povo dessas regiões, invariavelmente, era de um pauperismo contristador. O patense não fugia à regra. Enquanto capelas e matrizes das zonas auríferas ostentavam custosos altares, artísticos frontispícios, as demais caiam aos pedaços, não pelo descaso dos habitantes de parcos recursos, mas, porque competia ao Governo o zelo pelos templos e a paga dos párocos.
Em 04 de junho de 1884, padre Manoel de Brito informa ao Governo que o estado da Matriz não é nada satisfatório. Sem as torres, o acampamento por concluir-se, sem batistério, os púlpitos apenas com grades, o altar mor e os dois laterais em sua primitiva construção, “nem ao menos caiados”, o telhado carecendo de grandes reparos, faltando, ainda muitas alfaias e ornamentos. Continuando, o vigário informa que os interesses da matriz, até esta data, estão desprezados”.
Também o Cruzeiro se encontrava em péssimo estado de conservação. Mesmo sem recursos financeiros, resolveram substituí-lo por outro maior, condizente com as proporções da casa de oração. Apelaram então para o povo, para os católicos, e estes não se fizeram esperar, colaborando todos de prontidão e eficazmente. O Capitão Joaquim Pereira de Queiroz, que residia na hoje casa da família de Virgílio Queiroz5, ofereceu logo a madeira necessária, e os hábeis marceneiros e irmãos João e Manoel Corrêa da Costa, vindos da cidade de Formiga para Patos e auxiliados pelo carpinteiro Jacinto José Ferreira, se encarregaram de construí-lo.
A inauguração realizou-se em 1892, sendo celebrantes do ato religioso os Revmos. Frades Dominicanos Frei Raimundo, Frei Guilherme e Frei Domingos, que vieram de Uberaba pregar as santas missões, e o Vigário Padre Getúlio Alves de Melo. Foi uma solenidade com enorme concorrência de fiéis, vindos de todos os recantos do Município. A grande e pesada Cruz após a sua bênção e ser carregada a mão por fervorosos católicos, foi, então, erguida, sob calorosos aplausos da multidão, em singelo pedestal de pedra, construído em frente a velha Matriz.
Quando a Catedral de Santo Antônio foi oficialmente aberta ao público em junho de 1954, chegou ao fim a razão da existência da 1.ª Matriz. Era questão de tempo a sua demolição. Em 1959, o então Prefeito Genésio Garcia Roza teve a ideia de mudar o Cruzeiro de sua baixa base de pedra para um pedestal mais alto situado na parte central e fundo da hoje Praça Dom Eduardo. A obra foi executada com a devida autorização do Monsenhor Manoel Fleury Curado. Em 1965 a 1.ª Matriz foi demolida, lá ficando o Cruzeiro como 1.º símbolo da religiosidade dos pioneiros.
* 1: Leia “Escritura de Doação Feita Por Silva Guerra”.
* 2: Leia “José de Brito Freire e Vasconcelos: O Primeiro Cura”.
* 3: Leia “Histórico da Primeira Matriz”.
* 4: Leia “Manoel de Brito Freire: O Segundo e Último Cura”.
* 5: Leia “Casa de Virgílio Caixeta de Queiroz”.
* Texto e foto (22/06/2016): Eitel Teixeira Dannemann.