DESTRUÍRAM AS PAINEIRAS DA AVENIDA PARANAÍBA

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ATEXTO: OSWALDO AMORIM (1983)

Minha reação foi de espanto e revolta, ao ver de repente, destruídas aquelas magníficas paineiras da Avenida Paranaíba.

Ali onde se via, para encanto dos olhos, uma magnífica seqüência de árvores grandes e frondosas, que enchiam de verde e sombra a avenida, agora estava uma triste galeria de mutilados vegetais.

Onde havia vida e beleza, agora era pura desolação, provocado por uma ordem insensata, que destruiu em instantes aquela esplêndida composição de troncos, galhos e folhas que a natureza levou tanto tempo a criar.

Minha sensação foi de perda, de perda de algo irreparável. E, realmente, o corte daquelas paineiras adultas, além da sombra amiga, privou aquela parte da cidade de uma paisagem de folhinha antiga.

Agora, quando uma dona de casa da avenida, chega à porta, em vez de uma formosa muralha verde, onde os passarinhos vinham pousar e cantar vê apenas troncos desnudos, numa melancólica seqüência de aleijões vegetais. À sua frente não estão mais suas velhas amigas, que embelezavam a paisagem e amenizavam a soleira das tardes quentes.

Dessa forma, a paisagem ficou mais pobre e as tardes, mais quentes.

Por tudo isso, a destruição dessas árvores foi algo doloroso para mim. Duplamente doloroso, aliás. Primeiro, pela perda dessa esplêndida coleção de paineiras. Segundo, pela – pelo menos aparente – indiferença da população, que a tudo assistiu sem esboçar um gesto de protesto, como se as árvores cortadas não fossem de Patos, mas de alguma obscura cidade de algum remoto país.

E agora. Não satisfeitos com a deplorável destruição provocada na Avenida Paranaíba, os responsáveis partem agora para a destruição das paineiras da Rua Major Gote.

E ninguém não vai fazer nada? Ninguém vai dizer nada? Onde estão os nossos ecologistas, onde está a Associação de Defesa do Meio Ambiente do Alto Paranaíba? Onde estão os nossos defensores da natureza?

Se não houver reação, a destruição prosseguirá, reduzindo o já insuficiente verde de que dispomos.

Esses fatos são tão mais lamentáveis, por se registrarem num momento em que o País inteiro é sacudido pelo despertar da consciência ecológica que provoca um sem número de movimentos e ações e defesa de matas, parques e até mesmo de uma árvore isolada. Enquanto em todo o Brasil cresce o movimento pela preservação da natureza, em Patos, uma cidade umbelicamente ligada à natureza, pois nascida à beira de uma lagoa cheia de patos selvagens, a ecologia sugere uma vaga palavra no dicionário e não algo que mexe com nossos corações e mentes.

Não gosto de magoar ninguém. Mas também não posso me calar contra este crime praticado contra a cidade, vítima de tantos crimes em diferentes administrações. Não gosto de magoar ninguém, repito; mas também não gosto de me omitir. E a omissão, infelizmente, tem sido uma moeda de largo curso em Patos de Minas.

Pelo muito que representam para o homem, as árvores têm de ser tratadas como amigas, como companheiras. Se no campo elas fornecem madeira, sombra e frutos, na cidade elas dão sombra e beleza e ajudam a evocar um pouco o bucolismo do campo, amenizando a árida paisagem de pedra e cal, de muros e paredes.

Malgrado tudo, em nossa terra elas infelizmente estão sendo tratadas como inimigas.

Isso é profundamente triste, pois em vez de derrubar árvores, deveríamos espalhar árvores pela cidade inteira, enchendo nossas ruas de verde e beleza.

Nossa faina arborizada, aliás, deveria ir além de nossas ruas, para estender-se à criação de parques, para dar à Patos de amanhã os magníficos bosques urbanos que fazem o encanto de tantas cidades, sobretudo no exterior.

* Fonte: Texto publicado com o título “Nossas Árvores Pedem Socorro” na edição n.º 72 de 15 de julho de 1983 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de História do Unipam.

* Foto: Idadecerta.com.br, meramente ilustrativa.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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