O picolé apareceu pela primeira vez no Bar do Láu. Foi um inesperado acontecimento. Ninguém o conhecera antes. Revolucionou o viver pacato de nossa gente. É que, quando o picolé apareceu, o povo não andava atoa pelas ruas. Não havia vida noturna. E durante o dia, Senhoras e Senhoritas não iam às lojas fazer compras. Mandavam buscar amostras do que desejavam comprar. Sapatos eram experimentados em casa.
Quando a notícia correu, todo mundo se apressou em ver e chupar picolé. O Bar do Láu e as calçadas adjacentes não tinham espaço para conter tanta gente. Uma festa o movimento provocado pelo picolé. Famílias – pai, mãe e filhos apareciam para a festa. O chefe comprava um picolé passando-o de boca em boca dos seus familiares – úi!… úi!… que frio… úi!… úi… – Só depois que todos expressavam sua surpresa pela frieza do picolé é que o chefe comprava um para cada um de seus familiares.
Os vizinhos da frente do Bar ofereciam cadeiras para as senhoras que também apareciam para apreciar o movimento.
Formou-se um prá-lá e prá-cá em frente a casa do picolé. Um vai-e-vem que passou a ser moda da rua General Osório.
Tempos depois com a inauguração da Sociedade Recreativa com a rua Major Gote feericamente iluminada, o picolé perdeu seu prestígio. O vai-e-vem passou para essa rua, sendo hoje uma tradição que a mocidade mantém, animado e gostoso.
Cooperando para a alegria dos passantes, as autoridades colocavam tabuletas com – Trânsito Impedido – isolando o trecho entre as ruas General Osório e Olegário Maciel, ao tráfego de veículos. Posteriormente o mesmo acontecia entre as ruas Olegário Maciel e José de Santana.
À noite, aos sábados e domingos as tabuletas lá estavam. Virou tradição.
Ultimamente as tabuletas desapareceram. Com o trânsito livre os incautos, os que não abrem mão do prazer de andarem pelo meio das ruas, correm o risco de serem atropelados.
Juiz de Fora, cidade trepidante, conserva seu tradicional vai-e-vem na Rua Halfeld. Diariamente das 19 às 22 horas, veículos não entram na referida rua.
Seria bom se os rapazes, parodiando uma canção carnavalesca, e com o devido respeito as autoridades cantassem: – Seu dotô delegado, dá licença pra passa, não vamos fazê barulho, só queremos é passeá…
* Fonte: Texto publicado com o título “Patos de Minas” na edição de 24 de fevereiro de 1977 do jornal Folha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, publicada em 03/05/2013 com o título “Vai-e-Vem”.