TERNO DO JOÃOZINHO ANDRADE, O

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O pessoal mais rodado sabe e muito bem quem foi João Borges de Andrade, o Joãozinho Andrade, homem de relevante atuação em diversos campos junto à comunidade patense. Dizem aqueles que o conheceram, mesmo pouco ou muito, que o Joãozinho Andrade era muito religioso e que sua vestimenta preferida era um terno da melhor qualidade. Nesse quesito ternal, as boas línguas daqueles rodados afirmam não terem certeza se a cor do terno era azul escuro, azul claro, preto, cinza claro ou escuro e por aí vai. O afirmado é que o terno, com raras exceções, sempre estava presente no corpo do Joãozinho Andrade, mesmo nos eventos mais simplórios do seu ativo cotidiano social e comercial.

Certa vez, estava para ser realizado o casamento de um dos 13 filhos que teve com sua esposa Yolanda. No dia programado do casório foi uma correria danada, pois o terno do Joãozinho Andrade precisava ser lavado. Por que precisava ser lavado? Porque era o terno que ele mais gostava e que mais usava e, para ele, de jeito algum, participaria do casamento de seu filho com outro terno. A família tentou de todas as formas convencer o homem de que havia pelo menos mais dois ternos, mas não teve como convencer o Joãozinho Andrade.

O jeito foi procurar urgentemente o Paracatu, que tinha uma lavanderia na Rua General Osório. Os rodados que conheceram o Paracatu sabem muito bem de sua correria de bicicleta pelas ruas da Cidade para buscar e fazer as entregas das roupas lavadas e, naquele tempo, das engomadas vestes femininas. Ele, o Paracatu, com seu tradicional barrigão, suava por todos os poros para atender a vasta clientela na sua duas rodas da marca Monark de pneus mais largos que as tradicionais.

Já era de tarde quando o Paracatu recebeu a encomenda. Primeiramente, afirmou que não tinha como lavar e secar o terno do Joãozinho Andrade a tempo do início do casamento, pois ainda tinha muita veste feminina para engomar cujas donas iam ao cito casório. Tanto a família insistiu que ele resolveu pegar a empreitada, em respeito ao respeitado empresário.

De posse do terno, lá se foi o Paracatu na sua Monark botando força máxima nas pernas. Quando ele estava passando em frente à Catedral de Santo Antônio, assim afirmam aqueles rodados e isso é mais verdadeiro quanto dois mais dois é igual a quatro, sabe-se lá como, o terno do Joãozinho Andrade, ancorado num cabide na gola da camisa do Paracatu, ficou teso, fez um gesto de se ajoelhar e, pasmem, com suas mangas sem braços, se benzeu, tão habituado que estava na pele de seu dono.

Voltando aos rodados, eles afirmam categoricamente que o Paracatu entregou a tempo o terno lavado e seco do Joãozinho Andrade e que ele, o Joãozinho Andrade, esteve impecável com seu terno favorito no casamento de seu filho, graças ao fantástico trabalho do Paracatu.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

 * Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.

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