No início de 1961, a M. Garcia Melhoramentos S/A, tendo à frente o empresário Mário Garcia Roza, concluiu um edifício de quatro andares na Rua Major Gote, entre suas colegas José de Santana e Juca Mandu. Nesse imóvel foram instalados o Cine Garza, o Restaurante-Churrascaria Okey e Boate Menina Moça e ainda o Roza Hotel. Foram três importantes empreendimentos que, na opinião dos que vivenciaram aquela época, se transformaram em cartões-postais da Cidade.
Reza a lenda que o Mário Garcia Roza tinha um amigo ou parente, e se era amigo ou parente, pouco importa, o negócio é que ele, o amigo ou parente, era especialista em hotelaria na cidade de Juiz de Fora, que foi convidado pelo empresário a vir para Patos de Minas gerenciar o Roza Hotel. É sabido, desde aquela época, que o juiz-forano é metido a imitar a fala do carioca naquela de puxar excessivamente o “s”. Não demorou uma semana e o sujeito arrumou encrenca com os colegas. Juiz-forano metido a carioca, o jeito de falar puxando o “s” ao extremo, pior do que os portugueses, não agradou a ninguém aqui do sertão bravo de fala caipira. Além, ele se intrometia na gerência do cinema e do restaurante-boate. Um mês depois, o Mário Garcia Roza tinha recebido um monte de reclamações dos outros funcionários a respeito de seu “protegido”.
Dois meses depois, nenhum dos funcionários aguentava mais a arrogância do juiz-forano e do seu jeito de falar puxando ao extremo o “s” imitando os cariocas. E o Mário Garcia Roza, ocupado com seus outros empreendimentos, foi levando, levando e, como no popular, deixou o barco descer a corredeira, mesmo com a interferência de seu irmão e ex-prefeito Genésio e até do então prefeito Sebastião Alves do Nascimento, o Binga, que, como ou outros, não consideravam uma boa a permanência do juiz-forano metido a carioca e principalmente a besta.
Veio então, por parte dos colegas descontentes, uma ideia considerada genial para eles. Passando-se por um representante comercial, um amigo daqueles foi se hospedar no Roza Hotel no justo momento em que o juiz-forano estava na recepção. O suposto pretendente a hóspede, solicitou um quarto. O carioca disse:
– No momento, só temossssssss doisssssssss disponíveissssssssss, o cento e doisssssss e o duzentosssssss e trêisssssssssss. Ambosssssssss têm ventilador e televisor Telefunken com ótima imagem.
O suposto hóspede, como o combinado, não perdeu tempo em responder:
– Tanto faz um ou outro, desde que tenha vista para o mar.
Finalizando, reza a lenda que o suposto hóspede virou a costas e se mandou, e que muitos funcionários apareceram rindo da situação e que o juiz-forano metido a carioca, depois de pouco mais de dois meses, voltou com sua arrogância e seus “esses” para as terras da Zona da Mata Mineira. Assim, outro gerente foi contratado, sem arrogância e com a devida gramática regional, e a vida seguiu em frente.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.