Que bacana, estou bem em frente a uma praça que faz parte de três bairros¹. Chique, né. Ou não? Quer dizer, o que isso representa pra mim? Sei perfeitamente que por aqui já passou muito carro de boi, quando ainda um vasto descampado caracterizava os poucos logradouros no entorno. A linha vinha das lonjuras da Avenida Paracatu, descia a Avenida Padre Almir Neves de Medeiros, quebrava à esquerda, passava pela praça, chegava à Avenida Brasil e seguia em direção à antiga ponte do Rio Paranaíba. O soberano tempo tratou de modernizar o lugar. Hoje, está tudo diferente por aqui. Até eu estou diferente, pois não existia essa mureta com grade e outros acessórios estruturais. É que sou daquele tempo em que a vida nessa cidade era tranquila, com as pessoas batendo papo em frente das casas, geralmente com as portas e janelas abertas, e não essa zoeira nojenta de motos e carros com som nas alturas que importunam até as tradicionais formigas que zanzam pelo meu terreno. O progresso é uma faca de dois legumes, quer dizer, de dois gumes: facilita a vida através da tecnologia, mas, ao mesmo tempo essa mesma tecnologia nos traz poluição ambiental e sonora. E como nos locais ocupados por imóveis não há mais como a cidade crescer para os lados, o que progresso faz? Ora, simples: cresce para cima, como torres de Babel. O que é isso? Ô fulano, ou fulana, isso muito me importa, alói, pois estou falando dos edifícios. É difícil entender? Bem, pelo menos para mim, não. Tô ciente, muito ciente, cientíssimo do que me aguarda. Os edifícios estão vorazmente ocupando o centro da Cidade e, sonsamente, estão se espalhando por todos os bairros. É óbvio, mais do que óbvio, que eles vão chegar até mim. E nessa, tchau, Inês é morta! Então, ficamos combinados assim: nem eu te ligo e nem você me atende. Algum dia eu desapareço, fazendo parte da História de Patos de Minas. E deixarei saudade!

* 1: Leia “Praça dos Bandeirantes: A Pracinha de 3 Bairros”.

* Texto e foto (18/01/2025): Eitel Teixeira Dannemann.