A italiana Vespa surgiu em 1946 e chegou ao Brasil uma década depois, persistindo até 1964, quando parou de ser fabricada. Voltou a ser montada no país em 1974. É justamente nessa época que entra o jovem comerciário Paulo, que há muito se apaixonara pela espécie de motocicleta através de anúncios de TV e por presenciar algumas poucas rodando pelas plagas da Cidade. O Paulo encravou na mente que ia adquirir uma delas, mesmo que precisasse trabalhar também à noite. Intuito? Ora, impressionar as mocinhas. Assim o mancebo fez: durante o dia numa loja de confecções no Centro e à noite conseguiu uma vaga de garçom num bar de um amigo, também no Centro.
Quem não gostou nadinha foi a mãe, que via seu filho trabalhando quase 16 horas por dia só para comprar a tal da Vespa. Isso porque, após uns cinco meses naquela árdua labuta, o Paulo já havia emagrecido pelo menos uns cinco quilos e sentindo-se cada vez mais cansado, fruto de noites mal dormidas e má alimentação. Mas o rapaz, insistente, continuou em busca do seu desejo até que, após pouco mais de um ano, conseguiu seu objetivo, ficando, então, com apenas o trabalho de comerciário.
Com a Vespa em casa, após um dia de treinamento no quintal com um entendido na máquina, num sábado à tarde, naquele tempo em que o comércio no cito dia só funcionava até meio-dia, fez questão de convidar os amigos mais chegados para uma festinha de apresentação do valioso produto adquirido. Depois de duas horas de comemorações, chegara o momento da primeira andança na moto. E foi nessa que o Paulo fez questão de convidar a mãe para ir com ele em sua primeira andança vespasiana. De imediato ela recusou, mas por insistência do filho e de seus amigos, acabou concordando.
Todos na porta da casa, na Rua Dr. Marcolino pouco depois de sua colega Silva Guerra, lá foram Paulo e a mãe, esta dando adeusinhos para a turma. Foi um estardalhaço tremendo dos amigos quando a Vespa arrancou pela primeira vez sob o comando do rapaz numa rua da Cidade. E lá foi o Paulo, garboso, puxando papo com a mãe. E nada da mãe responder. Medo? Cruzaram a Rua Farnese Maciel, e nada da mãe responder. Cruzaram a Rua Marechal Floriano, e nada da mãe responder.
Só chegando à Avenida Brasil é que o Paulo percebeu algo estranho: não sentia os braços da mãe envoltos em sua cintura. Olhou de soslaio para trás e… cadê sua mãe? Nesse momento, um Gordini se emparelhou com ele e o motorista avisou que sua mãe, quando ele arrancou com a Vespa, se desiquilibrara e caíra, ficando estatelada no asfalto. No mesmo instante ele compreendeu o motivo do estardalhaço dos amigos. Desesperado, ele contornou o quarteirão e chegando na porta de casa se deparou com a mamãe com arranhões no joelho e suspeita de fratura num dos cotovelos sendo consolada pelos amigos.
A mãe se recuperou e o Paulo, por severa imposição da genitora, vendeu a Vespa e caiu no tradicional: comprou um Fusca.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.