NA EUFORIA DO TRIGO

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Na segunda metade da década de 1930 e início de 1940 houve uma revolução na agricultura de Patos de Minas cujo principal personagem foi o trigo, comandada pelos experimentos do Agrônomo Moacir Viana de Novais. Obtido os êxitos e devido à sua repercussão, a Companhia Moinhos Minas Gerais S/A começou a beneficiar o cereal aqui em 26 de fevereiro de 1938 em caráter experimental. A sua primeira moagem comercial foi solenemente inaugurada em 04 de março de 1938, ainda com a característica de ser o primeiro moinho de trigo instalado em território mineiro.

Foi veiculado na época, que o Município seria a pátria do trigo, pois o nosso solo ia garantir-nos tal gloria e que, visando esse objetivo, não estivessem ausentes os homens, que a valorizam pela exploração racional. Totalmente dominado pela euforia trigal, o então Prefeito, Clarimundo José da Fonseca Sobrinho, o Prefeito Camundinho, juntamente com seu secretariado e as presenças fundamentais do Dr. Moacir e da Moinhos Minas Gerais, resolveram oferecer aos produtores rurais as sementes de trigo por um preço irrisório, para que a cultura se alastrasse o mais rápido possível.

Para tanto, foi organizada uma comissão encarregada da distribuição das sementes, comandada por Hercílio Trajano da Silva, que passou a visitar as inúmeras comunidades rurais de todos os Distritos. Com isso, a euforia do trigo foi tomando conta de todo o Município, com o Dr. Moacir e a Moinhos Minas Gerais cada vez mais satisfeitos e enobrecidos pela causa.

Não demorou muito e chegou a notícia aos ouvidos do Prefeito Clarimundo de que o chefe da comissão encarregada da distribuição das sementes a preços irrisórios estaria distribuindo-as de graça. Nada satisfeito com o que ouviu – seria verdade ou fuxico do povo? –, Camundinho solicitou a presença de Hercílio Trajano da Silva ao seu gabinete para os devidos esclarecimentos:

– Hercílio, que negócio é esse de você distribuir as sementes de graça, é verdade?

– É verdade, Prefeito, é uma retribuição ao povo.

– Retribuição ao povo? O Município não tem como arcar sozinho com isso e já recebi o recado da Moinhos Minas Gerais que ela não vai cobrir esse rombo nos nossos cofres. Mas afinal de contas, Hercílio, você que é um sujeito tão sensato, por que fez isso?

– Simples, Prefeito, ia ser como o combinado, vender a preço de custo, mas logo na primeira visita na Capelinha do Chumbo, puxado pelo Jorge Veneroso, o povo começou a gritar Viva o Prefeito Camundinho! E aí, com o entusiasmo do Jorge Veneroso, resolvi distribuir a semente de graça. E assim foi em cada comunidade: – Viva o Prefeito Camundinho!

O Prefeito Camundinho caçou a cabeça e olhando firme nos olhos de Hercílio, saiu-se com essa:

– É isso aí, Hercílio, jamais se deve menosprezar o carinho do povo. Continue assim que me viro com a Moinho Minas Gerais.

Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.

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