Há muito tempo que estou com este artigo entalado na garganta, mas sempre adiando sua publicação, na esperança de que alguma coisa melhorasse. Estou cansado de falar de diretores, filmes, atores, embrafilme etc., sendo que a entidade mantenedora dessa coluna vai de mal a pior, no que diz respeito à frequência de público.
A princípio, pensávamos que o baixo índice de frequência fosse devido à concorrência com outras atividades, mas essa mostra de cinema que realizamos nesse mês de julho veio comprovar que infelizmente é desinteresse mesmo¹.
Exibimos filmes durante toda a segunda quinzena de julho, com exceção das segundas feiras, não havia, na cidade nenhuma outra opção, pelo menos para quem anda por aí se dizendo altamente aculturado, politizado. Foi uma programação de alto nível e é uma pena que filmes como esses, de um dos mais importantes cineastas contemporâneos, fossem vistos por tão pouca gente.
Outra coisa que me entristece também é o fato de o cineclube ser constantemente criticado. Reconheço que grandes falhas existem, mas que não se pode corrigi-las sem uma participação efetiva.
São quase três anos que atuamos aos “trancos e barrancos”, não conseguimos até hoje a regularização da entidade, consequentemente não temos ajuda financeira oficial, e renda dos filmes mal dá para pagar o seu aluguel. O que salva a situação é o esforço dos nossos companheiros de Brasília, que, a duras penas, conseguem filmes nas embaixadas (que são grátis).
Precisamos descobrir uma fórmula para atrair as pessoas para o cineclube.
Evidentemente esse não era o artigo que eu gostaria de publicar, e acho até que ele ficou um tanto chato e choroso, mas é necessário levar ao conhecimento das pessoas que a coisa não vai às mil maravilhas.
* 1: De 13 de julho a 1.º de agosto de 1982 o Cineclube Patos de Minas promoveu o Festival Werner Herzog, onde foram exibidos os seguintes filmes: O Enigma de Kaspar Hauser, Coração de Cristal, Aguirre – a Cólera dos Deuses, Os Anões Também Começaram Pequenos, Sinais de Vida e Stroszek. Local: Biblioteca do CESU − Rua Major Gote, n.º 1091 (prédio na esquina com a Rua Farnese Maciel, em frente ao Hotel Líder).
* Fonte: Texto de Eugênio Ribeiro publicado na coluna Cineclube de Patos de Minas com o título “Entalado na Garganta” no n.º 52 de 31 de julho de 1982 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.
* Foto: Torres.rs.gov.br, meramente ilustrativa.