DÁCIO PEREIRA DA FONSECA FALA DE SEU GOVERNO − 5

Postado por e arquivado em PODER EXECUTIVO, PREFEITOS.

Na entrevista publicada no n.º 9 de “A DEBULHA” o Prof. Altamir Pereira da Fonseca, Vereador à Câmara Municipal e líder da ex-ARENA, ele lhe fez uma acusação de ordem política bastante séria, quando disse que o atual Prefeito se isolou dos antigos companheiros que o elegeram. O que o senhor tem a nos dizer sobre isto?

Diria que não fui eu que me isolei de meus companheiros, mas foram eles que se isolaram de mim. Já no primeiro ano de meu mandato, senti assim uma certa frustação, quando numa reunião da Câmara Municipal, para a qual inclusive, muita gente foi convidada para assistir o “impeachment” do Prefeito, lá compareci, a convite, para responder a uma série de perguntas. Eu me reservei e me reservo até hoje, de considerar aquela atitude elegante ou deselegante, por motivos pessoais e da minha própria formação. A partir disto, ainda que eu não exteriorisasse eu não poderia deixar de fazer um juízo e de avaliar quais são os meus amigos reais e quais são os amigos de oportunidade. Acredito mesmo, que muitos amigos meus, talvez, tenham “engolido” a minha candidatura e o meu mandato. Sempre procurei no meu relacionamento com a Câmara, demonstrar a maior lealdade possível e quanto a isso, acredito que os senhores vereadores não têm nenhum motivo para queixas, porque dentro das possibilidades da Prefeitura, tenho procurado prestigiar e atender a todos eles. De modo que eu diria que não fui eu que me isolei, mas senti que procuraram “me gelar”. Inclusive, eu nunca disse isto, mas aproveito a oportunidade para revelar um raciocínio meu, a respeito de certas atitudes: numa Câmara de Vereadores, numa Assembléia Legislativa, na Câmara de Deputados, no Senado, o processo democrático e legislativo se desenvolve através da atuação da situação e da oposição. Favorável ao governo ou contrário ao governo. Agora, aqui em Patos, acontece um fenômeno diferente que estou aprendendo neste meu mandato, neste meu relacionamento: não sinto que exista na Câmara uma oposição: sinto que existe a situação, constituída pelos meus bons amigos e ao invés de oposição, o que há é uma hostilização. Não é uma oposição, já que, como disse antes, meus projetos que tem fundamento e que a Câmara teria muita responsabilidade se os rejeitasse, são aprovados. Mas existe alguma hostilização, no tratamento com o Prefeito e esse tratamento, eu não sei se é de ordem pessoal, ou se é de ordem política, ou se tem qualquer outra ordem, mas é evidente que a gente percebe isto. Outro aspecto que foi ventilado é que o Prefeito é o líder politico. Discordo. No meu caso, não sou o líder politico de Patos de Minas, pois temos nossos líderes políticos. Considero-me um líder administrativo, porque o líder politico é aquele que tem vivência, aliás, o líder politico não se improvisa; não é o mandato que o transforma. Eu por exemplo, para me transformar num líder político, levaria muito tempo; teria muita coisa a ser feita e a necessidade de muito relacionamento com o povo e com o eleitorado para que eu pudesse assumir essa condição. Minha condição é pois, a de líder administrativo e não de líder político.

Na mesma entrevista, o Vereador Altamir Pereira da Fonseca disse que após o atual Prefeito haver recebido um apoio muito grande do Deputado Sebastião Alves do Nascimento, que na ocasião de sua campanha veio até aqui com o estado de saúde já bastante abalado, para lhe dar apoio e que, quando seu filho Elmiro Alves do Nascimento se candidatou a Deputado no último pleito, o senhor haveria fugido de dar a ele o apoio recebido antes de seu pai e inclusive, diz o Prof. Altamir que o Prefeito se preocupou em apoiar elementos do MDB e outros que não eram daqui. E pela entrevista mencionada parece que essa informação foi levada à Câmara, pelo Vereador José Simões da Cunha. A afirmação do Prof. Altamir tem alguma procedência?

Acho bom afirmar que a hostilização mencionada é muito anterior às eleições e isso não impediu o meu melhor relacionamento com os Vereadores, inclusive com aqueles que se consideram meus adversários (pois acho que não tenho adversários políticos; eles poder ser os meus mas eu não me considero assim). Meu relacionamento com a Câmara nos primeiros momentos era de muita expontaneidade e de muita sinceridade, principalmente de minha parte e acredito também, de uma grande parte dos senhores Vereadores, dos quais até hoje, tenho recebido essa consideração. Agora, quando disse da aprovação dos projetos do Prefeito, pela Câmara, quero dizer que isto não basta: o que o Prefeito precisa é do incentivo dos Vereadores, porque são eles que ajudam a administrar, são eles que realmente têm essa sensibilidade, essa perspicácia para trazer ao Prefeito, aquilo que é o anseio da população. Não digo então que tenha ficado frustrado, mas achei bastante estranho que companheiros que tinham ajudado a me eleger, quisessem agora, votar o “impeachment” do Prefeito porque ele andou de carro oficial dessa e daquela maneira; porque foi não sei onde, enfim, por uma série de perguntas que me foram feitas na época e que não tinham a menor procedência. Mas nem por isto, eu recusei a minha sinceridade e a minha lealdade. Há quem diga que eu não deveria prestigiar os Vereadores do MDB. Ora, eu estaria traindo os meus princípios se me recusasse a apoiar os Vereadores que não trabalharam na minha campanha, que foram meus adversários políticos na eleição e que trazem proposições que beneficiam o Município. Sem falar noutro aspecto que sempre procurei canalizar os atos administrativos em proveito dos senhores Vereadores, de vez que não tenho qualquer ambição política.  Agora, com referência à campanha eleitoral de 78, acredito que fui bastante leal e improcedem muitas das acusações que me são feitas. Quando da candidatura do Elmiro, tive a oportunidade de me reunir inclusive com os Vereadores da ARENA, para expor um ponto de vista e um constrangimento meu de participar de uma campanha de um candidato a Deputado Estadual que se fazia acompanhar de um candidato a Deputado Federal, que havia feito uma oposição muito grande na minha eleição para Prefeito, oposição essa que tivesse ficado apenas no apoio a outro candidato seria normal, porque aquele Deputado Federal houvesse visto no outro candidato mais méritos para o cargo. Mas após e eleição, houve grande hostilização dele (Jorge Vargas) à minha pessoa. Acredito que é o Deputado que cativa o Prefeito e não vice-versa, principalmente quando o Prefeito é inexperiente e está iniciando na política, como era o caso. Então, eu me senti constrangido e sem motivação em participar de uma campanha como aquela. Na reunião com os Vereadores, eu expus meu ponto de vista e disse textualmente, que minha posição seria de alheamento, mesmo porque, sentia que não fosse favorável aos interesses de Patos, tantos candidatos que estavam se apresentando. Diante disso, não faria campanha para ninguém e esta minha posição foi mantida, ainda que se diga que trabalhei para este ou para aquele. Meus amigos e meus parentes mais chegados, ficaram liberados e não dei opinião para que votassem em quem quer que fosse. E esta minha atitude é que talvez tenha causado algum ressentimento, porque depois das eleições, eu me tornei o responsável pela derrota de todos os nossos candidatos. Sinto-me bastante impotente para isto. Não sou homem de votos; não tenho votos. Por isso é que não sou líder político e sim administrativo. Acho que fui bastante coerente com a minha posição e também, que essa posição deveria ser repetida. Inclusive, acredito que aquela “dobradinha” não teria sido feita pelo Binga se ele aqui estivesse. Agora, desafio qualquer pessoa a dizer ou comprovar que trai meu ponto de vista. Entendendo essas acusações como falta de assunto ou como um pretexto.

Senhor Prefeito, agradecendo sua amável acolhida e sua atenção para conosco, perguntamos, o senhor teria mais alguma coisa a dizer?

Gostaria de inserir neste aspecto das críticas que fazem à minha Administração, que, como já disse no início, são críticas que nem sempre procedem. Talvez eu tenha cometido a falta de não divulgar a minha administração, mas volto a insistir, é do meu feitio. Muita gente se preocupa com a imagem do Prefeito e devo dizer, que nunca me preocupei com a minha imagem. Sou politico inexperiente, mas gosto de beber nas boas fontes, nos bons ensinamentos e tenho sempre comigo, aquele pensamento de Kennedy: “O homem público (que nós dizemos político), é aquele que não tem medo de enfrentar as adversidades ou os atos impopulares, ou praticar atos que o tornem impopular, desde que esses atos redundem em benefício da comunidade ou do bem público”. Em vista disso, é que eu nunca tive essa preocupação e hoje, se a minha imagem melhora, graças a obras que até podia dizer, não são de profundidade, tenho a firma confiança de que meu mandato será julgado no futuro e sem vaidade, acredito que o julgamento me será favorável, graças às obras que visam as gerações futuras.

NOTA DA REDAÇÃO

A entrevista concedida pelo Prefeito Dr. Dácio Pereira da Fonseca, à “A DEBULHA”, nas pessoas de Dilson Abel Pacheco, Dirceu Deocleciano Pacheco e João arcos Pacheco, aconteceu em sua acolhedora residência, na noite do dia 11 de setembro do corrente ano e teve três horas e quarenta minutos de uma conversa inteiramente descontraída e sem qualquer interrupções.

Algumas pessoas têm inadivertidamente, criticado a sua extensão, que entretanto, se justifica por um motivo: durante os quatro anos do mandato legal do Prefeito, aliás, um dos mais criticados em nossa história, ele jamais veio a público, para responder, esclarecer ou se defender.

No momento em que seu mandato acabava de ser prorrogado por mais dois anos, o procuramos e para honra desta Revista, ele aceitou fazer aquilo que não fizera antes, permitindo-nos apresentar uma verdadeira “radiografia” de sua pessoa e de seu mandato.

Se houve criticas de alguns, o que é compreensível em qualquer caso, esperamos porém, ter agradado à maioria dos leitores e sem qualquer interesse de outra natureza que não o de noticiar e informar, estamos satisfeitos com o que pudemos apresentar.

* Fonte: Quinta e última parte da entrevista de Dilson Abel Pacheco, Dirceu Deocleciano Pacheco e João Marcos Pacheco publicada na edição n.º 15 de 15 de dezembro de 1980 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Parte da foto publicada em 18/05/2018 com o título “Dácio Pereira da Fonseca & Paulo Autran”.

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