FALTA DE RESPEITO COM A SENHORINHA

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Tem gente que não “alói” mesmo, e se em casa não respeita princípios básicos da educação vai respeitar uma simpática senhorinha na rua que ele nunca viu na vida? Pois bem, lá ia o garotão pelo passeio da Rua Doutor Marcolino, pouco depois da esquina com a Silva Guerra, todo cheio de remelexo, bonezinho pra trás, bermudão de 1,99 já pela metade da bunda, um brinco em cada orelha, tatuagem até no couro cabeludo e empurrando um carrinho de mão repleto de laranjas destas encontradas no comércio. O cara só tinha no repertório duas palavras e uma letra pra anunciar a mercadoria, e repetia sempre três vezes numa voz melosa e alta.

– Olha a laranja, olha a laranja, olha a laranja!

Na minha caminhada pela mesma calçada, encontrei um amigo. Enquanto estávamos discutindo alguns assuntos, de vez em quando reparava no vendedor de laranjas. E o carinha até que estava vendendo bem. Sempre após uma venda, ele entoava o seu marketing.

– Olha a laranja, olha a laranja, olha a laranja!

Até que encostou uma senhorinha daquelas tão simpáticas que dá vontade de pedir a ela pra ser nossa mãe, e foi logo perguntando pelo preço. O jovem comerciante disse o valor, ela gostou e começou a apalpar a mercadoria, atitude que o mancebo tatuado não agradou.  Apalpa uma, apalpa outra, apalpa uma quinta e a possível cliente arremata:

– É doce, moço?

Pra que! O garotão que não estava nada satisfeito com as apalpadelas ficou sério, até assustando a senhorinha, encarou-a diversas vezes, pigarreou e soltou as palavras nada delicadas:

– Olha dona, se fosse doce eu estaria gritando “olha o doce, olha o doce, olha o doce”; mas não é, dona, eu vendo laranja e não doce.

Depois de ouvir estas “singelas” palavras, a linda senhorinha ficou tão triste que eu e meu amigo nos sensibilizamos. Ela foi embora e juro que quase fui tirar satisfações com o garotão. Mas, pensando bem, não foi tão grave assim. E a vida seguiu seu rumo!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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