Você aí que está me espiando com esses olhos curiosos já deve estar se perguntando como consegui sobreviver até agora nesse terreno em pleno Bairro Guanabara¹. Prezado, eu já me fiz essa pergunta pelo menos umas 480 vezes. Saiba que já fui fazenda. Aí desviaram a atenção imobiliária para essas bandas. Então fui transformada num […]
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DEIXAREI SAUDADE − 133
Fui fotografada! Que trem mais bão do mundo, sô. Eu, nessa minha eterna simplicidade jamais esperava por isso. Pois é, um sujeito que eu nunca vi mais gordo na minha vida parou de frente a mim e… click. É, o fulano estava com uma máscara que cobria o rosto, como eu ia saber quem era? […]
DEIXAREI SAUDADE − 134
Pequenininha sou, desmilinguida não. Afinal, tamanho não é documento, como muito bem apregoam os humanos. Não dizem por aí que os melhores perfumes estão nos menores frascos? Pronto, falei. Já deu para reparar que sou bem cuidada, né. Como eu sou por dentro? Ora, deixa de ser curioso. Aqui abrigo há muitos anos algumas almas […]
DEIXAREI SAUDADE − 135
Lembro-me como se fosse hoje daquela linda moça a bailar dentro de mim¹. Não esqueço quando aquele moço² se aproximou dela e depois fiquei sabendo do casamento. Aqui nas minhas entranhas surgiram muitos namoros e laços matrimoniais. Bons tempos, até que esse entorno³ se transformou em lugar de prostituição. Foi o fim da minha alegria, […]
DEIXAREI SAUDADE − 137
Essa troca do piso asfáltico da Rua Major Gote anda a mexer com os meus miolos argamásticos e paredais. Eu estou pertinho dela¹ e, sô do Céu, que poeirão danado. A gente sabemos, quer dizer, desculpe porque estou nervosa, a gente sabe, nós imóveis e os humanos, que não foram almas do além da estratosfera […]
DEIXAREI SAUDADE − 138
Fui erguida aqui na Rua Major Jerônimo¹ sobre os escombros de uma semelhante. Pelo que já ouvi falar, esse Major Jerônimo é o mesmo Jerônimo Dias Maciel, o nosso primeiro prefeito. Não sou de dar pitaco sobre a vida dos outros, mas esse nome deveria estar numa das principais ruas da Cidade. É o que […]
DEIXAREI SAUDADE − 139
Desde que fui abandonada, questiono comigo sobre o porquê fui construída. Coisa esquisita isso, sô, tive muita movimentação dentro de mim durante certo tempo, um falatório danado, que minhas paredes não conseguem refletir, afinal, qual foi a minha utilidade? No meu entorno¹ há muitos depósitos de areia, cascalho, terra, brita e afins, e isso me […]
DEIXAREI SAUDADE − 140
Imagine aí você, à meia-noite, passando em frente ao portão principal do Cemitério Santa Cruz quando percebe uma movimentação estranha entre os túmulos. Estancado os passos, seus olhos, curiosíssimos, procura por algo assustador. E ele lhe aparece, em forma de uma horrível alma penada. Imediatamente, o que você faz? Sai em disparada pela Rua Ouro […]
DEIXAREI SAUDADE − 141
Minhas entranhas estão em polvorosa. Estou me sentindo sofrida e vou seguindo com tolhida, sentida, rendida, perdida, omitida, inibida, fendida, despida, cuspida, repelida, reduzida, oprimida, exaurida, deferida, aturdida, sucumbida, esquecida, comprimida, espremida… e vamos parar por aqui senão o trem vai longe. Credo em Cruz, Ave Maria, Nossa Senhora da Abadia, tenho certeza de que […]
DEIXAREI SAUDADE − 142
Eu já fui uma, apenas uma, unicamente uma. Na simplicidade do meu interior, ornado por aparatos mais singelos que um broto de capim gordura, eu aconchegava almas que jamais me completaram e nunca completaram-me. Vivo há anos sem reboco em algumas paredes, sentindo ora os rigores do frio, ora os escaldantes raios solares ou as […]
DEIXAREI SAUDADE − 143
Não, eu não sou aquela da Rua Major Gote, e muito menos aquela da Rua General Osório, e muito menos ainda a da Rua Anicésio Vieira. Eu sou apenas uma das centenas de casas construídas nesse estilo espalhadas pela Cidade e até em alguns dos nossos Distritos¹. Antigamente tinha isso de construírem muitas casas aproveitando […]
DEIXAREI SAUDADE − 144
Bons tempos aqueles em que eu tinha muro baixo e todos que passavam aqui me viam como que afundada. Se minhas paredes não se enganam, foi quando instalaram naquela praça logo ali o cruzeiro¹. Bons tempos, de gente humilde que habitava essa porção da Cidade, porém trabalhadores e do bem. Óbvio, como em qualquer época, […]